Revista Ações Legais - page 112-113

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O famoso caso da Cambridge Analytica, que utilizou demaneira indevida os dados demais
de 87 milhões de usuários do Facebook, repercutiu nos últimos meses pela dimensão do
impacto. Devido a brechas da maior plataforma social do mundo, a Cambridge teve aces-
so a informações de pessoas além das que consentiram com os termos do “thisisyour-
digitallife”. Tudo isso foi supostamente utilizado em campanhas eleitorais nos Estados
Unidos e podem ter influenciado na vitória de Donald Trump, na corrida presidencial de
2016. Desde então, o Facebook tem buscado formas de prover mais segurança, mas a
própria mídia social fatura ao utilizar as informações que compartilhamos com ela - não
seria um paradoxo?
Nesse cenário, é interessante apontar o que poucos levam em consideração. Ao menos,
observamos a preocupação de aplicações para computadores e smartphones sobre me-
didas de segurança de dados. Mas o que acontece quando incluímos a Internet das Coisas
nessa equação? Qual a quantidade de dados estamos fornecendo sem sermos questiona-
dos se queremos mesmo compartilhá-los? E o mais importante: o que tem sido feito com
essas informações? Seria mesmo a perda de privacidade um fator que pode influenciar na
nossa perda de liberdade?
Não podemos apenas demonizar esse processo, até porque também nos beneficiamos
da “perda de privacidade” - isso quando ela é compartilhada de forma controlada e uti-
lizada com inteligência. Por exemplo, receber sugestões de filmes ou notícias conforme
seus gostos pode ser um facilitador (além de que, ao saber nossas preferências, as em-
presas podem se adequar para atender melhor às necessidades). Somos tratados como
indivíduos e tudo passa a ser personalizado. Entretanto, até que ponto não prejudica
quando o que deveria ser privado se torna público?
De toda a exposição que temos nos dias atuais tem algo que realmente é uma perda. Não
existe mais o direito ao esquecimento. O passado acaba sempre voltando, com tantas
informações disponíveis, muitas das quais passamos a perder o controle. O conteúdo dis-
ponibilizado na Internet reverbera: é compartilhado, copiado, roubado. Estar conectado
tem um preço. A vida online influencia diretamente a offline. O que deve prevalecer nes-
ses casos é o bom senso e o maior desafio está em encontrar o ponto de equilíbrio entre
a exposição e a privacidade.
Por Fernando Matesco, diretor técnico
do Instituto das Cidades Inteligente (ICI)
ARTIGO
A tecnologia, a internet e a
perda de privacidade
H
oje, somos todos famosos (ou quase). Ao
menos, essa é a percepção que temos ao
procurarmos nossa trilha digital na Internet:
perfis em redes sociais, participação em seleções,
comentários em portais de notícias e até divulga-
ção em sites próprios "confirmam" nossa existên-
cia. Soma-se a esse processo o acompanhamento
de empresas como Google e Facebook, que con-
seguem saber onde estivemos, com quem intera-
gimos, os assuntos que procuramos e até as fotos
nas quais aparecemos. Todo esse movimento tem
transformado a vida privada em um espetáculo pú-
blico, com exposição constante e rastreamento de
todas as nossas experiências.
Se a tecnologia é uma facilitadora para guardar e
organizar dados, permitindo que tenhamos acesso
a documentos e fatos que seriam encontrados há
alguns anos apenas em procuras extensas em bi-
bliotecas, ela também pode ser um perigo se não
for bem administrada. E, em grande parte das ve-
zes, a culpa é do próprio usuário. Muito do que ex-
pomos sobre nosso cotidiano é por escolha. Seja
pelas publicações que disponibilizam dados que
podem comprometer a segurança (quantas vezes
já vimos casos nos quais os sequestradores arqui-
tetaram seus planos com informações extraídas de
mídias sociais?), seja por aceitarmos as condições
propostas em dezenas de linhas - que geralmente
não lemos - para ter acesso a diversos serviços gra-
tuitos ou pagos.
Foto: Divulgação
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