Revista Ações Legais - page 144-145

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FLAGRANTES DO MUNDO JURÍDICO
nar; e tomar muito cuidado para não errar, sob pena de rasurar e as vezes até inutilizar a
página de papel em que escrevia. Hoje, tem tudo no computador, ele pensa, dispensa a
obsoleta maneira de escrever com caneta ou lápis, basta o usuário ditar e a máquina es-
creve sozinha e corrige tudo num linguajar perfeito.
E raciocinar? Não há necessidade, pois a tirana máquina tem armazenada nas suas entra-
nhas todos os assuntos que a pessoa deseja abordar, bastando, apenas fazer remendos e
“colar” o que interessa. Escrever passou a ser uma espécie de telegrama sem alma, com
timbre da impessoalidade e absoluta falta de sentimento. Salvo que eu esteja tão errado.
E dou graças a Deus quando completei setenta anos e tive que me aposentar, pois não
saberia conviver com os chamados “processos eletrônicos”, todos digitalizados e espre-
midos em pequenos disquetes. Para saber o que eles contêm “basta” acopla-los ao com-
putador para aparecer na tela tudo aquilo que foi gravado. E com direito ao som, prin-
cipalmente quando se tratar de “processo eletrônico Criminal”. Já pensou ter que ouvir
todos os depoimentos das testemunhas e o interrogatório do réu? Nem tudo é aproveitá-
vel tecnicamente para interessar ao julgamento.
Ainda bem que não senti este drama, porque deixei o Tribunal justamente na fase de divi-
são das águas, ou seja quando o processo escrito deu lugar ao processo digital. E sabe o
pior? Quando olho a tela azul do meu computador parece que estou dentro de um avião,
viajando num dia ensolarado e de céu de brigadeiro: minhas pálpebras fecham meus
olhos sentem estranha vontade de dormir. Fico hipnotizado e não consigo mais pensar.
Invejo àqueles mais idosos do que eu que navegam na tela do computador em busca de
mil aventuras. Eu sou um fracasso: não consigo!
É por isso que “datilografo” minhas crônicas na telinha do meu celular, que tem um fun-
do branco e não permite que eu me distraia além das letrinhas que fico teclando. Meu re-
lógio eletrônico também é uma invenção estupenda, está acoplado ao meu celular, mas
eu só sei ver as horas. Acho que para mim um antigo “relógio do sol” serviria, sabe por
quê? Ah! Mas chega por hoje, qualquer dia eu contarei sobre ele, senão todos vão pensar
que estou muito fora deste novo século...
“Pior de não saber lidar com o computador é sentir sono só de olhar a sua tela mágica.
Parece que o cérebro esvazia e os braços pesam como chumbo. Sei que pareço um tro-
glodita no meio de um mundo eletrônico e sem piedade!”
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FLAGRANTES DO MUNDO JURÍDICO
Por Edson Vidal
Maldito computador!
T
enho um amigo muito especial que se preocupa muito comigo, por saber que “de-
dilho” minhas crônicas, teclando com um só dedo as letras do meu diminuto tele-
fone celular:
- Você precisa digitar no computador! - ele repete, todas as vezes que falamos por telefone.
- Não! Não suporto essa maldição! - respondi, me referindo ao tal computador.
Sei que a tecnologia veio para ficar e que o computador diminuiu as distâncias e facilitou
a vida moderna. Nada, ninguém, empresa alguma, nem por um segundo, vive sem o com-
putador que tudo registra e que responde sobre qualquer coisa, sem descanso. Também
sei que a comunicação moderna é feita eletronicamente, as pessoas quando estão longe
conversam pelos celulares e quando estão pertos, ficam distantes e se entretêm com o
quê os celulares distraem.
É muito engraçado. O namoro é virtual, as compras são feitas eletronicamente, os paga-
mentos e até as mais complexas operações bancárias são feitas via tela de computador.
Claro, não ignoro que não dominar essa terrível invenção contemporânea é como viver
no subterrâneo das cavernas, como um reles troglodita. Sei de tudo isto, porém abomino
o computador!
Por quê? Porque sempre escrevi com caneta ao mesmo tempo em que tinha que racioci-
1...,124-125,126-127,128-129,130-131,132-133,134-135,136-137,138-139,140-141,142-143 146-147,148-149,150-151,152-153,
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