Edson Vidal

Zumbis do Novo Século

Ontem senti de perto a falta de comunicação entre os humanos. Eu parecia um ET que aterrissou dentro da sala de espera de consultório médico, para levar minha esposa consultar, com sete pessoas esperando serem atendidas, todas com seus respectivos celulares ligados e ninguém prestando mínima atenção do que se passava ao redor.
- Boa tarde! - por educação cumprimentei a todos e ninguém respondeu; pior, nem tiraram os olhos da tela de seus celulares.
- Boa tarde - insisti e ninguém deu à mínima. Até um idoso, mais ou menos da minha idade, que eu achei que reagiria àquele meu gesto de boa vontade, era o que mais estava absorto na maldita “maquininha”.

Sentei sem graça  e passei a apreciar aquele ambiente onde estranho pareciam ter fumado crack e estavam “viajando” nos seus próprios mundos. Pensei com meus botões: “que encontro patético”; comigo e minha mulher, éramos ao todo nove pessoas, que ocasionalmente e sem se conhecerem, tiveram um inesperado encontro na antessala de um consultório médico.

Cada um por si e sem se importar nem  por caridade em esboçar um leve sorriso para quem estivesse mais próximo. O manuseio desbragado do celular impedia esboçar gesto de simpatia. Ah! Como era bom o tempo em que eu acompanhava minha mãe para ela consultar seu médico, tudo era diferente na sala de espera.

Quando alguém entrava e dizia:
- Boa tarde!

Todos os presentes, em coro, respondiam a saudação. E quando alguém que entrou logo sentava, a comunicação era imediata:
- Está frio lá fora? - perguntava alguém que estava esperando para ser atendida, há mais tempo.
- Mais ou menos... 

E pronto, era o início de uma boa conversa que servia para as pessoas se socializarem e se conhecerem. O mais pitoresco das conversas era a disputa para saber quem estava com a saúde em piores condições.

Era quase uma disputa olímpica. As conversas variavam de acordo com cada consulente, de remédios até as intimidades do núcleo familiar. Muitas amizades duradouras nasceram nos diminutos espaços das salas de espera de muitos esculápios.

E hoje? Salvo raras exceções as pessoas parecem múmias paralíticas, vivas, mas como se estivessem envoltas nos seus próprios sarcófagos. É difícil extrair de qualquer delas um mínimo grunhido.

Parece cena do filme o “dia em que a terra parou”, onde ninguém se movia e permanecia dura como  estátua. Lá mesmo, sentado, com cara de vão de cerca e só conversando com minha mulher, disse-lhe que não imaginava quando nossos netos fossem adultos, e necessitarem frequentar sala de espera de consultório médico. Ninguém daria a mínima para as demais pessoas.

A mudez seria absoluta e a comunicação zero. 
- Nem pense nisto - respondeu minha mulher. - O mundo será diferente, as consultas serão feitas por vídeo conferência, sem o paciente necessitar sair de casa. E as conversas serão por e-mail, os relacionamentos através de cópias de xerox e o futuro, será planejado a dois, na tela de um mesmo computador em 3-D!

Eu me senti aliviado com a lucidez de minha esposa e pude me descontrair com a sua visão futurística. Concordei. É claro que mundo amanhã será diferente de hoje, o telefone será um chip implantado no cérebro do usuário desde o seu nascimento e servirá para dar mais comodidade à vida.

Pois as  mãos estarão livres, leves e  soltas para levar o controle da televisão em uma delas e na outra o mauser  do computador, que falará eletronicamente com terceiros. Se comunicar para que? 
- Ué, mas não tem um ditado que diz: “Quem não se comunica se trumbica?”

É , mais caiu de moda, hoje impera a máxima: “cada um por si e Deus por todos!”. E o mais arrebatador deles: “boca fechada não entra mosquito!”.

Putz, será este mesmo o futuro dos seres humanos? Será? Será? O que você, acha? 

“A comunicação entre as pessoas no futuro será feita eletronicamente. Todos serão estranhos entre si, não haverá necessidade de conversar umas com as outras. As pessoas só se conhecerão pela televisão e se encontrarão fortuitamente num baile virtual. O amor será por e-mail!”
Edson Vidal Pinto

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.