Edson Vidal

É Difícil de Acreditar.

Nesta data estou redigindo meu crônico número 954, uma por dia desde 04 de maio, que caiu numa quarta-feira, do ano de 2.016. Muitas delas nem publiquei neste espaço que inaugurei só em 23 de dezembro de 2.016, porque até então não conhecia o suficiente a força do whatsapp e muito menos a minha paciência de digitar nas letras miúdas do meu telefone celular.

Vou reproduzir uma crônica inédita escrita anteriormente (17/12/l6), sobre um tema sempre atual: a reforma da previdência, então proposta pelo Presidente Temer. Vou apenas reescrevê-la para adequar nesse curto espaço, omitindo a crítica que fiz de que a previdência está falida porque o dinheiro arrecadado foi pessimamente gerido pelos governantes. 

Dito isso, vou agora dar ênfase a uma conversa que ouvi no salão de barbeiro, quando cortava o cabelo ou os últimos fios dele que ainda teimam em ficar incólume na minha cabeça. Na cadeira ao lado da minha sentou um homem, de meia idade, com vasta cabeleira grisalha, que falava alto. Fui um ouvinte silencioso.

Ele disse que tinha chegado de viagem de férias. O barbeiro perguntou:
- De Matinhos?
- Não - respondeu o cliente - da Velha Europa onde fiquei vinte e seis dias...
- Em quais países, doutor?
- Bélgica, Alemanha, Áustria e Inglaterra. Neste último país visitei uma senhora idosa, que morou aqui em Curitiba, e foi muita amiga de minha falecida mãe.
- Ela é inglesa? - perguntou o barbeiro.
- Sim, está viúva e mora em um apartamento pequeno na companhia de uma neta, que trabalha e estuda, mas que é solteira. Essa senhora é aposentada e vive dos proventos da aposentadoria. Ela me contou um episódio que aconteceu dias antes de minha visita.
- Conte doutor, estou curioso.
- Ela disse que venceu o boleto mensal da conta de luz e que passados dez dias chegaram três funcionários do governo em sua casa, para saber por que ela não tinha pagado a conta de energia elétrica.

Todos que estavam na barbearia ouviam o relato atentamente, ninguém piscava.
- Esqueci. Meu Deus foi puro esquecimento...

Um dos homens insistiu:
- Por acaso a senhora não está com dificuldade financeira?  Não sobrou dinheiro para pagar?
- Não, não. Eu esqueci mesmo - respondeu a mulher.
- Podemos, então, olhar o interior de sua geladeira?
- Estejam à vontade.

Então os funcionários foram conferir a geladeira e a dispensa de mantimentos, registrando tudo que viram em uma folha de papel oficial. Eles queriam ter a certeza que dinheiro que ela recebia da previdência era suficiente para viver com dignidade.

E antes de saírem, perguntaram:
- A senhora tem certeza que o benefício é suficiente? Não seria melhor receber mais cem libras de ajuda por mês? 
- Não! Recebo o suficiente da Previdência Social!
- Pasme você, no mês seguinte quando a senhora foi receber os proventos de aposentadoria constatou um aumento de cem libras!

A plateia que ouvia o relato suspirou. Eu permaneci mudo. Se era verdade ou não, juro que não sei. E a cereja do bolo veio no final do relato:
- Dias depois dos funcionários públicos terem visitado a residência, a senhora aposentada recebeu uma carta da Rainha, pedindo desculpas pela invasão de privacidade e justificando que ela foi necessária para apurar a real necessidade de uma pessoa idosa. Saí pisando nas nuvens da Barbearia. Quero acreditar que o feliz viajante tenha contado a verdade. Entrei no carro e quase chorei de raiva. Parecia um sonho o que eu ouvira. Mas me recuperei a tempo. Coloquei o meu carro em movimento e quando passei na frente da casa do Requião, não pude resistir e buzinei freneticamente. Ah! Meu gesto foi de revolta. Claro que ele nem ouviu, porque o seu mundo é outro...

“Todo governante teima em martelar a Previdência afirmando que ela é a maior culpada pelo déficit público. Mentira. O aposentado também paga a previdência. O benefício fica para a viúva, que recebe setenta por cento do salário do marido. Dinheiro  tem, ele está sendo destinado criminosamente para outras finalidades. Sem contar que tem aposentado que nunca contribuiu e político aposentados; como se a política fosse profissão.  É preciso tirar tudo a limpo para aparecer a verdade!”
Edson Vidal Pintou

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