Edson Vidal

Jovens Velhos!

Jamais imaginei que um dia pudesse acontecer um princípio de crise entre pessoas de uma mesma geração, na disputa de espaços e no sentido de querer prevalência por ser mais idoso.

E está acontecendo. A medicina moderna tem propiciado que os seres humanos vivam mais tempo e com melhor qualidade de vida. 

Quando criança lembra-me de uma tia, irmã de minha mãe, que deveria ter no máximo uns quarenta anos e quando eu olhava para ela tinha pena, parecia uma velhinha. Ela usava roupas escuras, tinha fios de cabelos brancos, um pouco enrugada no rosto, não usava pintura e nem sapato de salto alto, lavava, cozinhava, cuidava das roupas, dos filhos, e parecia que levava o mundo nos ombros. 

E na idade dela tinham outras pessoas da mesma geração, porém  se alguém saísse desse padrão não era vista com bons olhos. 
- Ah, viu o salto alto da Margarida?
- Claro.
- Bem impróprio para a idade, não acha?
- Pois é coitado do marido!

Com cinquenta anos a mulher e também o homem estavam mais para lá, do que para cá. Qualquer vento mais forte era pneumonia, febre, dor de cabeça e o fim.

O câncer de intestino era chamado de “nó nas tripas” e morrer do coração era sempre o famoso “ataque cardíaco”.
- Gumercindo morreu!
- Do que?
- Ataque cardíaco fulminante. Morreu como um passarinho, não deu bem um pio!

E chegar aos sessenta anos de idade era um ato de heroísmo: como alcançar o céu mesmo estando na terra. Merecia da família toda a atenção e mimo, os filhos orbitavam ao redor como os anéis de Júpiter. E o ciclo de vida terminava no patamar dos sessenta. Entrar na casa dos setenta era milagre. 

Hoje, tudo mudou. A mulher com quarenta anos se veste de menina-moça, tênis, calça de jeans rasgada, blusas decotadas, coloridas, pintura e cabelos da cor que quiser. Frequenta academia de ginástica e às vezes se parece como a irmã da própria filha.

Com cinquenta anos  viaja sozinha, enquanto o marido trabalha, frequenta barzinhos com as amigas e compartilha com os mesmos jogos de biriba ou canastra. O homem por seu turno, joga futebol e divide nos finais de semana o bar com os amigos.

E tem os que teimam em jogar futebol aos sessenta anos e outros mais atrevidos aos setenta anos, param quando se machucam seriamente. Enfim, a vida parece começar aos sessenta anos de idade: pois vigor e disposição não faltam.

Daí começa o choque de gerações com os setentões e os octogenários:
- Putz, aquele moleque de sessenta anos colocou o carro na vaga de idoso, quando poderia estacionar em outro lugar!
(Disse um septuagenário para sua mulher)
- É uma desgraça! (Responde a esposa na casa dos sessenta e poucos anos).
- A lei deveria ser para proteger os idosos, ou seja, acima de setenta anos! (Arremata o motorista frustrado por ter perdido a vaga para estacionar).

E quando o motorista sessentão desce do carro, vestindo bermuda e calçando tênis, o setentão fica remoendo de ódio:
- Eufrásia será que esse cara tem sessenta anos? Tem jeito de guri...
- Só não me peça para conferir se ele tem o cartão de idoso, porque não vou!

Esse é um exemplo típico de conflito entre os quase velhos, os velhos e os exageradamente velhos! Embora no temperamento tenha gente de sessenta muito mais encrenqueiras que um de oitenta anos. Na verdade a turma dos setenta, oitenta e noventa anos quer desbancar os de sessenta anos dos privilégios de serem velhos: não poderem estacionar em vagas privativas para idosos, nem ficarem nas filas preferenciais nos bancos e muito menos andarem de ônibus gratuitamente.

Por quê? Para muitos os de sessenta anos são ainda moços e aqueles que têm cara e corpo de velhos é porque “gastaram” antes do tempo. Azar deles. E as mulheres de sessenta anos devem merecer igual tratamento: pois são ainda moças e atraentes. Salvo aquelas que também gastaram.

Enfim, parece que a crise entre os idosos está ocorrendo no dia a dia, está na hora de algum perito estabelecer novos patamares entre as varias gerações, a fim de evitar atritos mais graves. 
- Posso dar um palpite? 
(Perguntou o conceituado médico geriatra e Professor da UFPR. Benedito dos Remédios Jr.) 
- Claro. (respondi).
- De 0 a 20 anos, criança; de 21 até 35 anos, adolescente; de 36 até 50 anos, moço; de 51 até 75 anos, adulto; e de 76 anos em diante, idoso. Que tal?
- Ótimo! (respondi de primeira e sem titubear).

A ideia está lançada, quem não “topar” que atire a primeira pedra! 
Fiquei contente com a ideia, pena que minhas dores e a vontade de ficar em casa como um velho sossegado, não tenha se ajustado muito bem na classificação sugerida pelo Benedito...

“Qual é a idade para ser velho? Eis uma questão que merece atenção das autoridade. Pois existe um conflito perigoso entre os idosos, para saber entre eles quem é o mais velho para ter mais preferência? A ONU deveria debater o tema para evitar uma guerra armada!”
Edson Vidal Pinto

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