Edson Vidal

Casa de Praia.

Na vida cada um escolhe a própria sarna para se coçar. É verdade: um exemplo clássico é piscina dentro do quintal da casa.

É um sonho e um privilégio. Pelo menos é assim que o proprietário se imagina, a farra com os filhos e netos, a reunião com os parentes mais chegados e a água à disposição e sempre convidando para um mergulho.

Construí uma, apesar dos meus amigos com piscinas me aconselharem a não realizar essa loucura, teimoso não deu ouvido. Foi quando morei em Umuarama com minha mulher e dois filhos menores, pois o clima quente da região arenosa do noroeste do estado exigia uma atitude insana. 

Depois de pronta foram momentos inesquecíveis e não tinha hora para a família toda entrar na água. Principalmente a noite. Porém a alegria não durou mais do que uma semana. Uma vizinha pediu e levou um filho de dois anos de idade para conhecer a “obra” e ele em trinta segundos caiu na água e quase se afogou. Foi um susto.

Desse dia em diante não parava mais de aparecer gente, a vizinhança era ótima, mas aos nos visitarem exageraram na dose. Perdi o meu lugar na piscina e minha mulher também porque precisava providenciar suco, sanduíches e bolachas para os frequentadores.

Dei graças a Deus quando saiu minha promoção para uma Promotoria de Justiça da capital. Piscina nunca mais! E casa na praia, então? Primeiro exclusivo para o clã familiar, depois aparece  como não quer nada o cunhado chato, vêm os namorados dos filhos, os esposos e noras, os netos e cada um se encaixam na divisão da casa como coelhos dentro de tocas.

E haja comida para tanta gente. A piscina fica liberada por turnos: os que não vão para a praia aproveitam as ausências dos que foram, e vice-versa. Claro que é divertido reunir a família na temporada, mas vamos e venhamos, é preciso ter saco! E se o dono da casa tiver um barco? Gente daí a disputa para entrar no barco é um espetáculo de terror.

E o dono da casa e do barco, juntamente com sua mulher, acaba sobrando para acomodar os netos. É quando o casal sente que poderá ficar a sós, por isso esperam o barco se afastar da Marina, e vão então ao restaurante almoçar com calma um apetitoso peixe com molho de camarão.

Sem barulho e nem gritos a refeição é um presente do céu. Ledo engano. Antes de serem servidos chega toda a família em bloco para dividir a mesa. Parece que eles foram guiados pelo cheiro até o local.

A mesa que seria para dois vai se multiplicando para que toda a “tchurma” possa sentar. E todos se fartam de comer e  antes de terminar estão programando retornar de volta ao barco para continuar o passeio.

E como verdadeiras saúvas vão saindo sorrateiramente até que fica o casal, dono da casa e do barco sozinhos.

É nesse momento de paz, que o garçom chega e faz a tradicional pergunta:
-  O senhor quer que eu traga a conta ou prefere um cafezinho antes? 

Sem nenhuma dúvida a família  é o maior tesouro da vida; principalmente quando está reunida num retrato emoldurado em cima da estante...

“As pessoas quanto mais vivem menos aprendem. Casa de praia, de campo, piscina e barco são meros sonhos de consumo. Servem mais para cansar do que para lazer. Enfim, o que é de gosto é regalo da vida!”
Edson Vidal Pinto

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