Coronavírus e o efeito manada no mercado de ações
O coronavírus tem causado abalo e incertezas no mercado de ações no Brasil e no mundo. Nos últimos dias a B3,como todas as demais bolsas de valores do mundo, tem experimentado as maiores quedas da história impulsionadas pelas incertezas do mercado quanto a extensão do período mais agudo da pandemia.
O mercado de capitais, em especial o de ações, tem como fontes do processo de tomada de decisão de compra e venda:(i) informações corretas e (ii) previsibilidade.
Os agentes que atuam no mercado de ações têm como principal função a de precificar os ativos, atividade que fica completamente prejudicada, para não dizer impossível, quando há imprevisibilidade, causando com isso estrondosa volatilidade dos mercados mundo afora.
Ocorre que a volatilidade traz consigo um efeito conhecido como manada, que é um fenômeno psicológico pelo qual as pessoas realizam uma ação, especialmente motivada porque as outras pessoas estão fazendo, não levando em consideração sua vontade individual. Isso é da natureza humana de querer participar de uma comunidade com pessoas com as quais se dividem padrões culturais e socioeconômicos.
Na história verifica-se que agir como um grupo poderia ser a diferença entre a vida e a morte. Com isso, percebe que o ser humano, neste ponto, age como outros animais que vivem em bandos, para os quais ações coletivas aumentam as chances individuais de sobrevivência de cada membro do bando.Com isso, o efeito manada em si, não é necessariamente negativo. Mas, quando se trata de investimentos, em momentos agudos do mercado, como o que se está enfrentando neste momento, os investidores precisam tentar contrariar a sua natureza humana e fugir da “manada”, pois isso inevitavelmente implicará em perdas.
O efeito manada na antiguidade era algo positivo, haja vista que facilitava e diminuía o tempo da tomada de decisão e aumentava as chances individuais de alguém que compõe o grupo sobreviver. Contudo, o mesmo raciocínio não se aplica aos investimentos, pois neste caso as decisões são muito mais complexas, onde a racionalidade tem grande peso.
Neste momento ocorre um ajuste nos preços dos ativos, mas ainda não há certeza se chegaram ao seu valor mais baixo. A dúvida contamina a tomada de decisão do investidor, tanto o que está na bolsa se o momento é de saída, assim como aquele que está fora é de entrada.
Como o efeito manada é um comportamento inquestionavelmente irracional, certamente fará com que a decisão de compra ou venda de um ativo seja tomada de maneira equivocada, ocasionando perdas. O impulso de agir acompanhando a maioria deve ser controlado com disciplina, racionalidade e paciência.
Ao invés de decidir acompanhando o grupo, o investidor precisa pesquisar e verificar se realmente existe uma razão plausível, especialmente neste momento dos efeitos do coronavírus, para que os ativos e o mercado estejam se comportando daquele jeito. O importante é que o investidor tente se lembrar do seu plano de investimentos, ou seja: as razões pela qual inicialmente tomou a decisão de investir, do horizonte temporal no qual pretende usufruir do valor investido, entre outras questões relevantes.
Se depois de feita análise e reflexão a conclusão é que não ocorreram grandes mudanças nas perspectivas do ativo, pode ser que faça sentido manter um investimento que passa por uma volatilidade momentânea do que vendê-lo. De outro lado, se a opção inicial foi por um investimento de menor risco, talvez seja mais racional manter aquele plano do que mudá-lo, somente porque o comportamento do grupo acontece nesse sentido.
Concluindo, o investidor precisa tentar fugir do efeito manada, tanto nos momentos de alta como naqueles de baixa, que pode acontecer por diversas razões, mas a mais importante delas é o medo do investidor de perder sozinho quando da baixa ou ficar para traz em seus investimentos na alta. Os investidores profissionais ou institucionais, como queiram definir, dominam essa “arte” e por isto, neste momento de ajustes de preços estão indo para “portos seguros” e lá aguardando a tormenta acalmar, quando os ativos retornam a ter uma precificação com base em razão e não emoção, para então voltarem ao mercado fazendo, assim, mais lucros.
Dessa forma, ao investidor comum resta evitar agir emocionalmente, pois o efeito manada não costuma lhe ser interessante. Encarar os seus objetivos costuma trazer melhores resultados do que seguir a “manada”.
Por Ricardo Botós da Silva Neves, mestrando em Corporate and Seccurities na UCL – University College London, especialista em Direito Econômico e da Empresa pela FGV e em Direito das Relações de Consumo pela PUC/SP