Imigrantes e Estados Unidos: histórias que não se separam
A polarização política dos Estados Unidos nesse momento que antecede as eleições presidenciais se parece muito com a do Brasil hoje. Na última semana de junho, o presidente Donald Trump expediu mais uma ordem executiva para suspender a emissão de alguns vistos de trabalho para estrangeiros. Em abril, ele já havia comunicado em seu Twitter a interrupção temporária da imigração no país.
As medidas visam priorizar as vagas de trabalho para os cidadãos americanos, em razão da enorme onda de desemprego instaurada pela pandemia do novo coronavírus. A retomada da economia americana passa, necessariamente, pela massa empreendedora do país, composta, em sua grande parte, por profissionais de outras nacionalidades. Conforme apontam inúmeros estudos já realizados sobre os impactos da imigração nos Estados Unidos, pessoas que vêm de fora geram milhares de oportunidades de emprego e receitas ao território.
É muito importante tentarmos enxergar o que está nas entrelinhas das resoluções. Para entendermos as intenções de Trump, devemos considerar os fatores político e eleitoral, já que as eleições nos EUA se aproximam, bem como analisar os impactos econômicos sofridos pelo país recentemente, além das preocupações com a saúde da população no que diz respeito ao controle da Covid-19. Como tudo na vida, há uma série de objetivos por trás de cada escolha.
Segundo estimativa do Migration Policy Institute, organização independente norte-americana, com base em dados oficiais, mais de 160 mil trabalhadores podem ser afetados pela norma, que suspende a emissão dos vistos até o dia 31 de dezembro de 2020. Vale deixar registrado que a medida não afeta as pessoas que já têm as autorizações em mãos:
• H-1B ou H-2B: Trabalhadores de áreas que requerem alto grau de especialização ou trabalhos temporários e sazonais;
• J: Professores, pesquisadores e au-pair em regime intercâmbio;
• L: Profissionais transferidos aos Estados Unidos pela empresa onde atuam.
Ao contrário do que Trump justificou à época, que trabalhadores americanos competem contra estrangeiros por empregos em todos os setores do país, acredito que as pessoas que chegam na América vêm para somar e nunca dividir ou subtrair. Aliás, como brasileiro, empresário e residente da Flórida, penso que setores estratégicos da economia, como os da alta tecnologia, podem ficar estremecidos daqui para frente sem profissionais qualificados e com o perfil adequado para agregar valor aos Estados Unidos. É uma suposição e torço para estar errado. Vamos aguardar!
Por Vinicius Bicalho, mestre em direito no Brasil e EUA e especializado em negócios internacionais