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ARTIGO
Nossa curiosa (e perigosa)
admiração por governos
longevos
A
rainha Elisabeth alcançou, no último dia 6 de
fevereiro, uma proeza pouquíssimas vezes
alcançada: 65 anos de reinado. Desde quan-
do recebeu a notícia do morte do pai, George VI, de
câncer no pulmão, aos 56 anos, a jovem de 25 anos
tornou-se o centro dos simbolismos – e da tietagem
– dos britânicos e de boa parte do mundo. No dia da
comemoração do jubileu de safira, porém, a rainha
não comemora. Para ela, a data lembra a morte do
pai e não a sua ascensão ao trono. E no seu recolhi-
mento e mutismo, o mundo delira e aplaude: “Viva
a Rainha!”.
Poucas monarquias nomundo atraem tanta atenção
quanto a britânica. Pode-se dizer que a rainha é um
dos ativos turísticos mais importantes para os ingle-
ses. Mas o que chama a atenção é o quanto a figura
da rainha nonagenária (e ainda firme!) também es-
timula a imaginação e o desejo em várias paragens
com políticas conturbadas e políticos com reputa-
ção questionável e muito pouco admiráveis. Como
o Brasil, por exemplo. Não precisa procurar muito
para encontrar, nas redes sociais, a expressão desse
desejo nostálgico de voltarmos a ter um governo de
um nobre, de rugas elegantes no rosto ou, como foi
o nosso caso, de ternas barbas brancas.
Várias são as páginas que se dedicam a lembrar os
méritos do também longevo governo de D. Pedro II,
Foto: Divulgação