Edson Vidal

Personagem Lembrado.

A partir de hoje, de quando em quando, vou procurar retratar histórias de pessoas que um dia cruzaram pelo meu caminho e deixaram em minha memória gratas recordações.

É um pálido arremedo do que o culto escritor e jornalista Ruben Braga (se minha memória não me trai) publicava na revista “O Cruzeiro” de Assis Chateaubriand, de página inteira sob o título: “O Meu Personagem Inesquecível”. Pois, bem. Conheci o Dr. Oromar Ribeiro Córdoba nos idos de 1.868, quando éramos Promotores de Justiça Interinos e depois prestamos Concurso Público e juntos fomos efetivados na carreira.

Ele tirou o primeiro lugar no certame, pois anteriormente tinha a experiência de ter sido advogado alguns anos em Cascavel, sua cidade natal. Quando acadêmico de Direito em Curitiba morou na Casa do Estudante Universitário, vizinho do Passeio Público, tendo sido o seu presidente. Foi na sua gestão que ele expulsou o saudoso José Richa, então aluno da Faculdade de Odontologia em razão de morar na Casa e ter repetido inúmeras vezes de ano, ocupando o espaço de outros pretendentes moradores. 

E anos depois quando o  Richa  foi governador o Oromar não escondia de ninguém o receio de ser perseguido pelo mesmo na carreira. Só ele tinha esta ideia fixa. E por ter sido o primeiro colocado do concurso teve o privilégio de optar, dentre as Promotorias que estavam  vagas, aquela da comarca que gostaria de trabalhar e morar tendo então escolhido a da cidade de Faxinal, onde foi o seu primeiro Promotor.

Homem de hábitos simples, inteligente e de raciocínio rápido, foi diligente no trabalho e um habilidoso Promotor de Júri. A cidade tinha então as ruas cobertas de paralelepípedos e nos trechos faltantes era de chão batido, um único hospital “São Luiz”, um pequeno hotel, comércio insipiente na rua principal, farmácias, bancos, máquina de torrefação de café, um clube social, na grande maioria as casas eram de madeira, um Colégio Estadual  e a praça da Igreja Católica onde foi edificado o fórum.

Em um dia ensolarado, muito quente, o dr. Oromar estava saindo do fórum e viu ao longe uma nuvem de poeira por causa de um trator de grande porte em alta velocidade, que logo atravessou na sua frente. O veículo era dirigido por uma criança de dez anos de idade.

Alguém lhe disse:
- Promotor, tome providências! Mande parar o trator e detenha  o menor!

E ele nada fez. E quando trator perdeu de vistas ele retornou ao interior do fórum  e pediu ao Oficial de Justiça que diligenciasse para descobrir o nome do proprietário da máquina agrícola a fim de intima-lo, junto com o condutor, para comparecerem no seu gabinete. Identificados como pai e filho, o Dr. Oromar tomou as providências de praxe.

Só depois então, mandou chamar o pedestre que lhe havia pedido para tomar providências, dizendo ao mesmo:
- Senhor; não esqueça que eu aqui na Comarca sou o Promotor de Justiça; não sou guarda de trânsito e nem polícia. Não posso arranhar minha autoridade fazendo cena no meio da rua. Já tomei as providências que o caso exigia. Tudo bem? E encerrou a conversa. Lição bem aplicada para todos os protagonistas. E quando ele deixou a Comarca eu fui seu sucessor e o segundo Promotor da história da cidade.

Em outra ocasião, quando ele foi Promotor da Comarca de Ponta Grossa, junto com outros cinco colegas observaram que todas as designações para atuar nos processos mais difíceis  o nome dele era o único lembrado pelo Procurador-Geral, tendo então dito uma frase antológica:
- O Ministério Público está dividido em duas categorias de indivíduos: a elite pensante e a mediocridade operante!

E rindo ele se referia a si próprio como o “burrico” que carregava o grande fardo de processos. Este foi o meu amigo e colega, folclórico como ele só. Morreu de enfarto ainda moço, quando empurrava seu carro na garagem de sua casa, em Curitiba. Este o resumo de sua história que relato com saudades...

“É bom falar de amigos que fazem de suas vidas histórias gostosas para serem contadas. Afinal são dos momentos vividos e sabidos que cada um de nós guarda e registra, ao longo da existência, que o acervo de nossas recordações!”
Edson Vidal Pinto.

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