Certo Dia No Bar Da Esquina.
Nunca tive pendores para frequentar bares, pois quem me conhece sabe muito bem que sou abstêmio e não gosto de bebida alcoólica.
Mas sei muito bem que ditos redutos se prestam para os habitués jogarem conversa fora, tomarem seus aperitivos e se servirem de requintadas especiarias: ovos cozido na casca (de varias cores) que ficam “nadando” dentro de um grande vidro com água; pepino azedo enrolado na folha de Parreira e rollmops (sardinha crua agarrada na cebola em conserva) que ficam às vistas sobre balcão como chamariz.
De um modo em geral o bar, bodega ou botequim é instalado dentro de espaços exíguos com poucas mesas, cadeiras de palha e uma grande estante de bebidas de todos os nomes e tamanhos para os fregueses poderem comprar para levar para casa ou consumir ali mesmo.
Pois é; entrei no bar do Julião, localizado na esquina da rua paralela de onde moro, para comprar uma caixa de fósforos. Minha intenção era mostrar ao meu netinho o que é um fósforo e como ele ascende no atrito com a caixa, pois está se tornando uma mercadoria quase em extinção.
E como nos bares estão os tabagistas me pareceu óbvio que neles são vendidas caixas de fósforos. Dentro do bar tinha mais ou menos umas trinta e duas pessoas, conversando, discutindo, rindo de piadas requentadas, falando mal da vida alheia e desabafando suas mágoas.
E num dos cantos tinha um violeiro cantando músicas de dor de cotovelo. Entrei dentre aquele emaranhado de gente e logo ouvi alguém gritar meu nome:
- Edson, meu vizinho, que bons ventos o trazem até aqui?
Olhei e vi que meu interlocutor era a “Maria Louca”:
- Oi, tudo bem. Entrei para comprar fósforos; e você o que é que está fazendo neste bar?
- Bebendo para esquecer a derrota da última eleição, pois como você sabe fiquei sem emprego...
- Mas você alguma vez trabalhou na vida?
- Claro, a política é uma profissão como qualquer outra!
- Ah! Você sempre debochando e mentindo: política no Brasil nada mais é do que um faz de contas: o político finge que trabalha e os eleitores fingem que acreditam!
- É o que você pensa...
- E pretende se candidatar mais uma vez?
- Uma não: varias vezes!
Serei candidato no ano que vem para prefeito de Curitiba ou vereador, se não for eleito vou ainda concorrer para governador ou senador...
- Mesmo? Não vai se aposentar?
- Jamais! Tenho muito para dar à Curitiba, ao meu Paraná, ao Brasil e a minha família!
- Dar o quê?
- Esqueci, esqueci completamente mas depois eu digo.
- Você precisa ficar em casa e deixar a política de lado; ou quem sabe trabalhar para aprender.
- Sou idoso, quase oitenta anos, ninguém dá emprego para um velho...
- Aí que você se engana: pode trabalhar como comissário de bordo nos aviões da Alitalia que emprega só idosos...
- Não sou fascista!
- Então como “concierge” do MacDonal...
- Odeio capitalistas...
- Ministro do Maduro...
- Detesto bolivarianos...
- Mais, como?! Você esteve com ele há poucos meses atrás!
- Sim, mas ele agora está para cair: é uma fruta “madura” prestes a estrebuchar do galho!
- E que tal então cuidar dos cavalos do “Batalhão Cel. Dulcídio”?
- Este emprego eu topo, pois montei em todos os cavalos da tropa e eu os conheço pelo nome.
- É, mas não vai dar certo...
- Por quê?
- O governador não vai deixar você apoiou um membro de sua família contra ele.
- Mas eu falo com o Aníbal para acertar as diferenças.
- O Aníbal morreu
- Puxa, havia esquecido. Eu vou mesmo ficar por aqui no bar, esperando o momento de voltar à vitrine política.
- Também acho melhor.
- Você quer um rollmops?
- Não, só vim aqui comprar uma caixa de fósforos.
- Você não sabe o que está perdendo...
Lamentavelmente não tinha fósforos para vender, o Julião disse que eu acharia no Supermercado Pão de Açúcar. Agradeci e na saída perguntei para o “Maria Louca”:
- E a Carta de Puebla?
- Vai bem obrigado, mandei uma cópia para o Francisco e ele está agitadíssimo! Vai logo, logo, canonizar o Fidel e o “Tchê”! Espere para ver.
Saí do bar quase correndo e sem virar a cabeça, pensando com meus próprios botões: que lugarzinho de gente esquisita e encrenqueira; e pensar que falei apenas com um deles...
“Frequentar bar para muitos é divino; para outros um sacrilégio. É um ambiente que tem de tudo um pouco: conversa fiada, piada, fofoca e desavenças. Tem especiarias de última geração: ovos cozidos coloridos, pepino azedo e rollmops. Muita bebida e gente finíssima!”
Edson Vidal Pinto