Edson Vidal

Tempo da Erva Mate.

Reminiscências. Houve um tempo no Paraná que cultivar erva mate era negócio rendoso e fortalecia a economia. Juram alguns estudiosos que a planta do mate é dos sertões paranaenses e que o chimarrão era costume dos nossos índios, depois se expandiu para todo o sul do Brasil até chegar a alguns países estrangeiros. Daí a ousadia de afirmarem que o hábito de sorver o mate chimarrão nasceu em nossa terra.

Não me atrevo defender e nem afirmar para não criar polêmicas com alguns de nossos vizinhos, mas têm autores de livros que atestam esta afirmação. Vou apenas escrever sobre o que sei e ouvi da indústria do mate em Curitiba, pois testemunhei quando criança o final deste grande ciclo econômico.

Era tão importante para o Paraná o cultivo e a industrialização do mate que o governo federal criou no Rio de Janeiro (Capital do Brasil) uma autarquia denominada  “Instituto Nacional do Mate” que tinha em nossa capital o único departamento que atendia os três estados do Sul.

A sua atribuição era fomentar a produção, fiscalizar a qualidade da indústria ervateira e exercer o poder de polícia para proibir a erradicação das lavouras e das plantas. E como eu sei disto? Porque minha saudosa tia Alayde Stinglin Ribeiro, uma das irmãs de minha mãe, era tesoureira-chefe desta repartição, então localizada em um edifício de esquina da Praça Zacarias ( em frente ao cine Luz).

E o meu tio Alfredo Ribeiro, casado com minha tia, era guarda-livros (contador) da Indústria de Mate Jordão Mader  & Cia. Ltda., cujo  sócio proprietário era o Prof. Algacyr Munhoz Mader, catedrático da Faculdade de Engenharia da UFPR.

A Indústria produzia o famoso “Mate Indaiá”, vendido em pequenas caixas de madeira. A máquina de beneficiamento de mate estava localizada na Rua Marechal Floriano Peixoto, entre a Av. Visconde de Guarapuava e Rua André de Barros, bem próxima da  Praça Carlos Gomes.

E nos fundos da ervateira tinha um imenso pátio e uma bela casa de madeira, onde meus tios residiam. E como eles eram meus padrinhos de batismo eu não só convivia com eles como era convidada constantemente para pousar no local.

Foi quando tive a oportunidade de percorrer o interior da fábrica, conhecer o maquinário de beneficiamento, conviver com os empregados e ensacadores de erva mate. O produto depois de beneficiado e ensacado era levado  por pequenas carroças puxadas por cavalo e conduzida por habilidoso carroceiro.

Diariamente eram dezenas de carrocinhas entrando e saindo do pátio para levar os sacos ou barris de erva mate para serem embarcados na estação ferroviária. O movimento era continuo de manhã até a noite.

Lembro que existia outra ervateira  a Leão Júnior & Cia. Ltda que produzia o “Mate Leão”. Eu também tive a oportunidade de percorrer com meu primo Luiz Carlos, fiscal do Instituto Nacional do Mate, para fiscalizar o plantio e preservação das plantas de mate nas cidades de Lapa, São Mateus do Sul e arredores que eram grandes produtoras da região.

E na Lapa conheci o Sr. Alexandre Weinhardt proprietário da “Ervateira Bom Jesus” e produtora do “Mate Legendária”. Ele foi um lapiano digno e honrado que conhecia como ninguém a história do cultivo da erva mate em nosso estado. É claro que no norte do Paraná predominava as grandes plantações de café que juntamente com o mate eram responsáveis pela nossa economia.

E foi num fechar e abrir de olhos que o café foi erradicado depois de uma grande geada ocorrida nos anos setenta do século passado; e a produção de erva mate perdeu o seu valor econômico,  embora ainda continue sendo cultivada entre produtores tradicionalistas. Hoje em dia desconheço se existe máquina de beneficiamento de erva mate em nossa cidade, pois nem o “Mate Leão” resistiu o progresso, vez que saiu de sua jaula e foi trabalhar para a Coca-Cola...

“O ciclo da erva mate foi uma benção para o Paraná. Seu plantio, industrialização e exportação fortaleceu a economia Em Curitiba e no interior as ervateira eram mantidas por famílias tradicionais e respeitáveis. É uma história que mereceria ser conhecida por nossas crianças!”
Edson Vidal Pinto

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