Edson Vidal

Berenice, a Corruptível.

Tem lugar em Curitiba que para andar sozinha a pessoa tem que ter um pelotão da Polícia Militar fazendo escolta. E não é exagero, não. Quem depois das vinte horas caminhar nas imediações da Praça Santas Andrade, seja qual for à direção, encontrará  desocupados e drogados pelas calçadas. O abandono é total.

Aliás, a promiscuidade do centro da cidade não é privilégio da nossa Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, pois a degradação e poluição ambiental estão na maioria das cidades do mundo. Eu estava pensando nisto desde que deixei meu carro num estacionamento próximo da Faculdade de Direito da Federal e caminhava até o prédio da Associação Comercial do Paraná, localizado no início do calçadão da Rua XV de Novembro.

E quando pisei na porta de entrada do edifício vi pelo reflexo do vidro que atrás estava vinda apressada a Berenice, tentando me alcançar. Parei e dei meia volta. Suficiente para ela dar aquele sorriso de um dente só pendurado na gengiva superior da sua boca, pois ficou  feliz que eu não fugi. 
- Patrão - disse a mulher amorenada, cabelo desgrenhado, roupas encardidas e de sandálias Havaiana. - lembrou-se de mim? 
- Clara Berenice como pode esquecer-me de você? 

Você vendia guloseimas nos corredores do Tribunal de Justiça, escondida dos seguranças e acobertada pelos funcionários que se deliciavam com os seus quitutes.

O que aconteceu com você?
- Meu marido me abandonou por outra, fui morar na rua...
- E ele?
- Fugiu, escafedeu pelo mundo afora.
- E os filhos? 
- Os três tinham mais de dezoito anos e também foram para longe, contratados pelo dono de um circo que passou por Curitiba. E com idade avançada e abandonada acabei depois indo morar no acampamento dos Sem Terras, ali na Santa Cândida.
- E daí?
- No início estava bom, tinha mortadela que eu amo de paixão, roda de viola, dança e muito discurso. Mas o tempo foi passando e com a posse do Bolsonaro, nem mortadela mais tinha! A “chefa” do partido sumiu, o Lula arranjou uma namorada psicóloga e nem no final de semana tinha gente nas barracas...
- Você abandonou o movimento da esquerda revolucionária?
- O que é isto, doutor? Eu estava lá porque tinha teto, comida e mortadela, mas quando o Rosinha, Azulzinho, Amarelinho, Maria Louca, a turma de Brasília e o frei Beto nunca mais aparecerem nem para participar do tradicional coro: “Bom dia, Presidente Lula!” e nem para o “Boa noite, Presidente Lula”, eu me mandei junto com os demais colegas. Voltei para as ruas. 
- E mora aonde?
- Com o dinheirinho que consigo das esmolas que eu peço às vezes eu durmo em uma pensão da Rua Riachuelo, pago vintão por noite...
- E como eu te conheço e sei que você não merece tanto infortúnio, vou te dar cem reais. Tome, é teu.
- Obrigado, muito obrigado, Deus te ajude!
- Que Ele ajude todos nós, Berenice. Todos nós! Ah, só não caia mais na lábia dessa turma do Lula, está bem?
- Fique sossegado meu amigo, nunca mais quero nada dessa gentalha...
- Nem por um sanduíche de mortadela?
- Pô, doutor. Não force a nossa amizade, porque eu gosto de mortandade pra chuchu!

“A Berenice é o modelo dos inocentes úteis. São pessoas que nada têm e aceitam qualquer coisa para fazer número. Diferente de certos estudantes universitários que estudam gratuitamente às custas dos Contribuintes; não sabem quem  descobriu o Brasil, e acham que democracia é um regime oligárquico.”
Edson Vidal Pinto

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