Edson Vidal

Vendo ou Troco!

Fico pensando enquanto não posso sair de casa  por recomendação médica, pois tenho que me esconder do frio igual a uma flor de estufa, que seria bom se o corpo humano funcionasse como motor de automóvel e fosse possível parar na oficina e pedir para trocar a “peça” que estivesse com defeito.

Tudo longe da mesa de operação, luzes, Hospital, anestesia, bisturi , Plano de Saúde, injeção e de um profissional médico cheio de distintivos bordados nas mangas de seu jaleco. O mecânico de macacão sujo, de cor azul, com o bolso da camisa pintado “Cofap”, mãos com unhas cheias de óleo e graxa inspira mais confiança e menos temor.

Ademais nem precisa usar máscara no rosto para cumprir sua obrigação de ofício, pois não tem nada o quê esconder. Parece engraçado, não? Também acho, mas não custa usar a criatividade. Principalmente por ser domingo, um dia de lazer, quando ninguém está a fim de ler uma crônica enfadonha e peçonhenta. 

O corpo humano que eu imagino seria de carne, ossos, troncos, membros, cabeça e também teria cérebro, este apenas para aqueles que não fossem lulapetistas e nem do contra.

Mas tudo igualzinho como o modelo divino, só as partes móveis seriam grudados no tronco com goma arábica ou fita durex. No lugar do umbigo uma portinhola para abrir como um capô a parte frontal do peito e atrás um fecho ecler colocado verticalmente da nuca para baixo.

As orelhas funcionariam como concha acústica  e também como puxadores para abrir a tampa da caixa craniana. Os acessórios como nariz, olhos (cuja cor poderia ser escolhida pela própria pessoa), orelhas, pés, glúteos etc, etc, ficariam a venda e expostas nas prateleiras dos Postos Ipiranga. E peças originais só em oficinas autorizadas é que poderiam ser compradas à vista ou a crédito com cartões de crédito.

E seria permitida a venda de peças entre humanos? Sem nenhum problema: pois aqueles de maior poder aquisitivo poderiam comprar uma nova peça e vender a antiga para terceiros, por preço mais módico. E troca? Como, assim? Um humano poderia trocar com outro humano uma peça em pleno uso? Nesta hipótese só se um deles estiver desenganado pelo mecânico ou mediante testamento devidamente formalizado no cartório competente.

Que tal, não seria interessante? Ficaria uma pergunta no ar: e os laboratórios que fazem drogas lícitas que são vendidas em farmácias? Claro que para evitar a falência seus acionistas estes poderiam se associar e montar indústrias de reposições de peças; e os farmacêuticos seriam seus operadores de máquinas.

E os esculápios? Ganhariam dinheiro inventando e aperfeiçoando novas peças para as montadoras. Eu hoje gostaria que fosse assim, pois neste momento estaria comprando ou trocando meus pulmões que estão em péssimo estado de funcionamento. 

E até poderia arriscar uma troca com algum samaritano que fosse dono de uma sanfona usada, mas que tivesse o fole em bom estado de conservação ou recauchutado...

“Não, não tenho nada contra os meus amigos médicos, que admiro e respeito, sem exceção. Pois todos são competentes e abnegados. Esta crônica é apenas uma brincadeira de quem não tem nada o que fazer num belo dia frio de domingo. E sem poder sair de casa. Até porquê, na próxima terça-feira, tenho consulta marcada com um deles!” 
Edson Vidal Pinto

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