Edson Vidal

Pressa Para Que?

Escrevi esta crônica ontem no exato momento em que estava sentado na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos - SP, esperando o voo para Curitiba no horário das 20:10 hrs. O trecho entre Teresina - São Paulo levou três horas e vinte minutos e foi tranquilo.

E como sempre com muita paciência esperei que alguma coisa acontecesse para servir de tema de fundo desta minha crônica. Valeu a pena esperar. E foi a bordo da aeronave quando ela chegou em Guarulhos e os motores foram desligados. Era hora do desembarque.

Eu estava sentado na terceira fila, lado do corredor, para poder esticar minhas pernas. Um segundo após os motores serem desligados metade dos passageiros já estava em pé, apetrechados com malas de não e suas malditas mochilas nas costas na ansiedade de poder sair em disparada do interior do avião.

No corredor ao meu  lado a “turba” estava mais espremida que bola de ferro dentro de um canhão antigo. Sentado como lorde inglês levei umas quinze bordoadas das mochilas em minha cabeça, sem nenhum pedido de desculpa.

A pressa para sair era tanta que passei a  imaginar que havia um terrorista nos fundos do avião ameaçando as pessoas, pois estas estavam desesperadas para sair.

Perguntei para a comissária de bordo se estava acontecendo alguma coisa atrás do avião que eu não havia percebido:
- Não, senhor. Está tudo normal.
- Então a Latam está dando algum prêmio para quem sair  primeiro?
- Também, não.

Conclui com meus botões que o motivo de todo aquele “motim” era a pressa de sair, nada mais. Num último pensamento cogitei em claustrofobia coletiva, mas não havia lógica aparente. E porque na hora de descer do avião os passageiros perdem a fleuma e querem desembarcar o mais rápido  possível? Pelo o que sei o avião está parado e enquanto não sair o último passageiro ele permanecerá no pátio do aeroporto sem destino.

Então por que sair como se tivesse que tirar o pai da forca? Foi na sala de espera em Guarulhos que passei a “matutar” sobre esta gente apressada. Enquanto estava absorto e pensando comigo mesmo vi andando pelo corredor o Petronius, um grego gente boa que conheci em um jantar da Sociedade Helênica de Curitiba. Ele me viu e veio mancando em minha direção.

E na medida em que ele se aproximava deparei que um de seus olhos estava roxo e os óculos quebrado.
- Meu Deus, o que aconteceu Petronius?
- Meu amigo, cheguei alguns dias de Atenas, pela Air France, estava sentado na primeira fila e quando pensei em desembarcar os passageiros das poltronas depois da minha, também tiveram igual intenção...
- E daí? - Perguntei aflito.
- Meu caro, caí no assoalho do avião e todos os passageiros passaram em cima de mim; até as crianças!
- Num voo internacional!
- Pois é, fiquei hospitalizado aqui em São Paulo e só agora estou indo para casa.
- E escolheu o lugar? 
- Sim...
- Onde?
- Na última fila!
- Parabéns! Você é prevenido e inteligente. Desta vez ninguém mais vai pisotear você; e você pode sair da aeronave com tranquilidade.
- Que nada! Sou um guerreiro ateniense, vou me desforrar: vou empurrar todos os que tiverem na minha frente e coitado de quem sentar na primeira fila!

Dei uma risadinha amiga e fui para a fila de embarque. O Petronius não tinha pressa alguns, pois ele sabia onde estrategicamente iria sentar. Quando dei boa noite para a aeromoça, olhei minha passagem e vi que meu assento era corredor, da primeira fila. Dei um salto para trás e voltei correndo para a sala de embarque.

Telefonei para minha mulher:
- Meu bem, a TAM suspendeu o voo desta noite, que era o último...
- Por quê?
- Furou o pneu do avião e como é noite as lojas que vendem  pneus de aviões estão fechada; estarei em casa  amanha de manhã deste se tiver passagem e assento no último lugar.
- No último lugar, por quê? Você nunca gostou de sentar no fundão...
- É verdade, mas tenho meus motivos e quando chegar em casa eu explicarei tudo para você tintim por tintim...

“É uma loucura quando o avião para no aeroporto e os passageiros levantam das suas poltronas como uma horda de elefantes enfurecidos. Todos querem sair em desabalada carreira. E o pior: ninguém respeita ninguém. E como tem muitos passageiros que vêm do Safari e levam suas mochilas nas costas, os que ficam sentados acabam levando tanta “mochilada” na cabeça que sofrem traumatismo craniano. É a verdadeira lei da selva!”
Edson Vidal Pinto

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