Edson Vidal

Este Uber Sou Eu.

Eu nem precisei colocar na cabeça o meu chapéu de chofer porque a pressa era tanto que quando me dei conta já estava sentado no banco do meu carro com a direção do veículo entre as mãos:
- Depressa porque temos muita coisa para comprar e muitos lugares para ir! Primeiro comprar os tapetes.

E sem dar uma palavra acionei o motor e sai profissionalmente do lugar rumo ao destino traçado. 
- A senhora aceita balas, pipoca, água ou refrigerante? - Perguntei.

Minha mulher olhou bem nos meus olhos e respondeu:
- Tem tudo isto?
- Ter não tem, mas podemos parar na primeira confeitaria para depois iniciar nossa peregrinação. - respondi. 

E como minha mulher sabe que eu sou movido a quitutes, deu uma leve risadinha como sinal de aprovação. E assim, logo saindo da garagem de casa, entramos na Confeitaria Holandesa.

E depois de reabastecido e feliz da vida voltamos em câmera lenta para o nosso carro.
- E agora? - Perguntei.

E para economizar palavras minha esposa apenas disse:
- Tapetes...

Coloquei o carro em movimento e quando passei por uma banca de revistas, parei:
- O que foi agora, meu bem? - Perguntou minha carona.
- Espere só um minutinho, tenho que comprar “Palavras Cruzadas”. As minhas terminaram ontem à noite.

E entrei na banca onde me fartei de ver revistas, livros, comprei gelatina pronta, enrolada em papel de celofane, pirulitos e quatro revistas de “Palavras Cruzadas”.

Voltei para o carro e minha mulher falou:
- Agora, vamos ver os tapetes?
- Se não tem sugestão melhor, vamos! -respondi com suavidade.

Liguei o carro e fomos em direção da loja de tapetes. 

E quando faltava uma só quadra para chegar na Kapazi, vi uma camioneta parada cheia de mimosa exposta à venda e estacionei na calçada.
- Meu bem, que frutas maravilhosas. Espere um pouco no carro que eu vou descer e comprar...
- Eu desço com você.

E enquanto minha mulher escolhia e comprava eu peguei uma mimosa para experimentar. Estava no ponto. O cheiro me transportou para Antonina, quando eu era  criança e meu pai me levavam no mercado para comer as mimosas que os pescadores traziam de lugares distantes para vender. 
- Vamos, já comprei as mimosas que você gosta.

Agradeci  e movimentei o carro. Nem tinha me dado conta que escurecera. E quando chegamos à loja de tapetes ela estava fechada. 
- A loja fechou mais cedo?

A minha mulher nem respondeu.
- Fechou?

Silêncio absoluto. Fiquei sem graça, pedi desculpas e não sabia o que fazer. De repente perguntei:
- Deseja ir para mais um lugar?
- Sim, comprar pão e voltar para casa. 

Não sei se ela estava aborrecida comigo ou não; que culpo eu tive se a loja encerrou o expediente mais cedo? Mas não respondi nada e poucos minutos depois estava estacionando na “Requinte” da rua Francisco Rocha.

Enquanto minha mulher desceu para comprar pão, eu fiquei no carro para dedilhar este crônica do dia. No início não sabia sobre o quê escrever, mas logo me lembrei de minha atividade de motorista e resolvi contar as minhas peripécias.

Cheguei conclusão que bem poderia ser um ótimo motorista de urbe, pois sou boa companhia, dirijo com muita calma, discuto qualquer assunto e estou sempre disposto a colaborar. Claro, desde que eu esteja bem alimentado.

E quando eu estava escrevendo fui interrompido pela doce menina dos meus sonhos:
- Podemos ir para casa.
- Comprou salame italiano?
- Comprei.
- Sonho de goiabada?
- Comprei.
- Bolacha de mel?
- Tem em casa.
- Presunto e queijo?
- Comprei.
- Então vamos para nossa casa!  - sentenciei.

Em casa, sentado na minha poltrona favorita, pensei sobre meu empenho de ajudar minha mulher como motorista e fiquei satisfeito comigo mesmo. Fui muito prestativo sem duvida alguma, só não pude levá-la para comprar dois tapetes.

Mas a culpa não foi minha, com certeza. Mas para ficar mais tranquilo Perguntei para minha mulher:
- Posso te levar amanhã na loja de tapetes?
- Não, vou chamar um Uber!
- Nem brincando meu amor, pois como disse o Roberto Carlos  um dia: “este  Uber sou eu!”

Ela deu uma risadinha marota e eu também...

“Acho que minha carreira de motorista de Uber está a perigo. Mas que culpa  eu tenho de sentir fome? Saco vazio não para em pé. Ademais motorista de Uber não precisa  correr para ganhar a vida-, pois passageiro apressado vai de táxi vermelho!”
Edson Vidal

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