Edson Vidal

Duelo Entre O Médico E A Morte.

Na noite de ontem entre homens livres e de bons costumes quando abordávamos sobre filosofia de vida buscando uma reflexão sobre a passagem dos seres humanos no caminho da existência, lembrei-me de contar uma história que li num livro chamado “O Cocotólogo” de autoria do saudoso médico pediatra Altivo Ferreira, que é uma coletânea de contos que autor compilou sobre fatos e fantasias ligadas à sua atividade profissional.

Sem medo de errar tive este livro em minhas mãos na época gloriosa da pediatria curitibana onde se destacavam ilustres médicos como Israil Cat, Plinio Matos Pessoa, Haroldo Beltrão, Oriente Franco de Godoy, Ivan Beira Fontoura, José Weinigher, Mauro Scaramuzza, Pio Taborda Veiga, Domício Costa, Davi Carneiro, Luiz Fernando Beltrão e outros que faziam da medicina um verdadeiro sacerdócio. 

A palavra “Cocotólogo” no português equivale ao “urigame” da língua japonesa, ou seja, referente aos trabalhos manuais na arte da dobradura de papel, usado pelo escritor para batizar sua obra. 

A história narra os momentos tensos e amargos de um jovem casal com um seu filho de três anos de idade, acometido de grave doença. Atendido por um médico pediatra o menor foi internado na UTI, onde começou a luta do profissional em tirar a criança das garras da morte. Foram dias intensos de batalhas até que a morte desistiu de lutar. A criança foi salva e voltou ao convívio familiar. 

Três meses depois o menino brincava com sua bicicleta na calçada de casa quando foi atropelado por um carro desgovernado, indo a óbito. O médico que tinha salvado o menor quando soube do ocorrido ficou prostrado, inconformado por ter livrado seu pequeno paciente da morte e esta ardilosamente o levou de modo  diverso para subtraí-lo da vida. Como homem de brios acabou chorando. 

De repente sentiu que alguém estava ao seu lado, levantou o rosto e viu a morte na sua frente. Esta falou:
- Por que você me odeia? Por que você luta tanto contra mim? 
- Porque morrer é o fim de tudo; é quando o sonho termina e fica apenas a saudades para alguns...
- Mas conhece o lado de lá? 
- Não...
- Então venha comigo, vou mostrar como é; um segredo guardado a sete chaves pelo Criador. Mas vou lhe mostrar. E a morte levou o pediatra para outra dimensão.

Quando o médico se deu conta estava e um cenário ensolarado, de muita paz, num enorme jardim, com árvores frondosas e logo viu correndo aquele menino que salvara, mas que a morte tinha levado consigo. 

A criança sorria alegremente com outras crianças. Depois viu alguns parentes seus que falecera e todos muito alegres, conversando e felizes com outras pessoas. Foi quando perguntou para a morte:
- Então é assim o outro lado da vida? Um paraíso?
- Sim. - respondeu a morte.
- Mas se é tão bom, por que você se apresenta como uma figura horrenda e dá a impressão que morrer é terrível?
- Simples doutor - arrematou  a morte. - Se eu me apresentasse como um Anjo com certeza todas as pessoas me pediriam para vir para o lado de cá e não ficariam desbastando a pedra bruta para se tornarem melhores, a fim de merecerem a felicidade eterna!

E assim terminou a história, deixando uma reflexão para os leitores. Eu apenas reproduzi o conto que minha memória armazenou, com igual propósito. Propiciar uma leitura amena e fazer com que cada um pense sobre o valor da vida, a importância de servir, ser bom e respeitoso. Espero que a leitura possa ser útil e benfazeja...

“Entre a vida e a morte existe um mistério indesvendável. Tudo é incógnita, suposições, inverdades e dúvidas. As superstições e o medo caminham lado a lado na mente humana, mesmo sabendo que a vida é um ciclo que tem início e fim. Ninguém ficará como semente, mas é impossível afirmar que a morte seja o fim de tudo!”
Edson Vidal Pinto

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