Edson Vidal

O Uso de Terno e Gravata.

Claro que a vestimenta não faz o homem pouco importando  o seu traje, pois vale mesmo o que ele é independente da roupa que esteja vestindo. Mas sou do tempo em que nas cidades do interior onde existia a “Casas Pernambucanas” o gerente da  loja usava gravata para distinguir sua hierarquia dos demais empregados.

Era tido como um o cartão de visita da empresa e sinônimo de respeito aos demais cidadãos da comunidade. Com vinte e dois anos de idade comecei minha carreira no Ministério Público do Paraná e lembro como se fosse hoje quando o então Procurador Geral de Justiça Prof. Ary Florêncio Guimarães com toda a sua experiência de vida  e senso profissional, falou na minha posse:
- Não queira estar acima de ninguém; não deixe de estudar e zelar pelo seu trabalho; não fale o que não deve; tenha comportamento exemplar e nunca entre no fórum sem estar usando terno e gravata!

Só esta última parte eu não tinha entendido, porém o saudoso Mestre foi que explicou:
- O terno e a gravata tem para o Promotor e o Juiz a liturgia de respeito à Justiça, assim como as vestes talares nas audiências e nos atos públicos!

Eu nunca na minha vida pública deixei de entrar em um fórum, Tribunal ou mesmo em qualquer repartição pública sem estar devidamente trajado como demonstração de respeito ao local e às pessoas que nele trabalham. E também pelos cargos que exerci jamais me apresentei sem estar vestido formalmente. Nem hoje como aposentado. Nenhum militar da ativa entra no quartel sem estar uniformizado.

Como eu disse a roupa não dignifica o caráter da pessoa, mas do jeito que esta se veste demonstra respeito para ser respeitado. Claro que hoje os tempos são outros; a modernidade bafejou novos ares e a sociedade adquiriu novos costumes - e sempre foi assim na história das civilizações. É comum em casamentos elegantes quando os convidados se reúnem para jantar, os homens tirarem seus paletós e suas gravatas como se estivessem no aconchego de suas próprias casas.

No entanto com tais despojamentos parecem que zombam dos anfitriões e dos noivos por não se importarem com o esmero e  carinho com que estes prepararam a festa primando pelo melhor ambiente. Nem os governadores recebem em seus gabinetes de trabalho as autoridades e visitantes com trajes adequados, usando jeans e camisa esporte como se estivessem ainda em campanha política.

Diga-se o mesmo dos Secretários de Estado, Prefeitos e outras autoridades de menor expressão. Tem médicos em seus consultórios que não atendem mais com o tradicional jaleco branco, muito menos de terno e gravata e sim de calça jeans desbotada e calçando tênis.

E por isto nem sempre inspiram confiança e credibilidade. 
- Mas o sujeito é o suprassumo da Medicina, o Papa na sua especialidade!
- Pois é, até pode ser, mas não aparenta o que é...
- Então a capacidade científica dele só pode ser medida pela aparência da roupa que usa?
- Num primeiro momento sim, lembrando que a primeira impressão é que fica!

Diga-se o mesmo para quem exerce a autoridade em razão do cargo: um Presidente da República que se traja inadequadamente não se impõe como deveria em razão de estar representando o país.

O mesmo se diga de um engenheiro que vai visitar uma obra em construção vestido de terno e gravata -, claro que estaria desrespeitando todos os operários que nela trabalham pela sua aparente soberba. Tudo é uma questão de bom senso. É claro que um Juiz, desembargador ou Ministro de Tribunais Superiores não podem usar roupas de esportes nos seus ambientes de trabalho, porque pela liturgia do cargo não estão adequadamente trajados. 

Nas audiências de Conciliação dos Recursos que aportam no Tribunal de Justiça e que tenho a oportunidade de presidir, as partes sempre se fazem presentes, acompanhadas de seus advogados.

E como estes estão abolindo o terno e gravata porque não aprenderam nas faculdades o respeito que devem ter à Justiça, eu sempre tenho que perguntar quem são os advogados e quem são as partes litigantes. E mesmo no Tribunal como no Ministério Público eu tenho visto Magistrados e Procuradores vestidos de calça esportes e camisa de manga curta, percorrendo os seus respectivos ambientes de trabalho. Não é por nada, mas um traje respeitoso e formal ajuda muito a manter o princípio de autoridade e dignifica o respeito que a Justiça merece...

“Tem profissões em que o traje formal é indispensável por ser respeitoso às pessoas, ao ambiente de trabalho e ao próprio prestígio do cargo que elas ocupam. A soberba nada tem a ver com o uso de terno e gravata; pois a soberba nada mais é do que uma doença do caráter. Traje respeitoso protege e muito o próprio princípio de Autoridade!”
Edson Vidal Pinto

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