El Dia Que Me Quieras.
Na minha vida tive a oportunidade de encontrar ilustres figuras públicas que jamais pensei que pudesse acontecer e nem sonhar.
Cito algumas delas: o Imperador Akihito do Japão, no almoço em sua recepção no Jardim Botânico, quando eu era Secretário de Estado da Justiça; o Dr. Albert Sabin encontrei no hall do hotel Bourbon da cidade de Londrina; o Dr. Sobral Pinto em um simpósio internacional do Direito do Consumidor no Centro de Convenções de Brasília, onde fui um dos palestrantes e tiramos fotografia juntos; a cantora Eliane Pitteman abordo de uma aeronave entre São Paulo e Recife; o Pelé nos “Jogos da Natureza”, em Foz do Iguaçú; e Frank Sinatra quando este passava com a esposa em um carro aberto na Avenida Atlântica em Copacabana, Rio de Janeiro, dentre outros. Mas em especial um deles - o cantor Gregório Barrios - de saudosa memória foi um personagem com que eu tive oportunidade de estar mais à vontade e não me esqueço de sua fidalguia e apurada educação.
Este encontro aconteceu em um baile no Quarenta Country Clube da cidade de Faxinal, então presidido por Tolstói Mantovani, ex-goleiro do Clube Athletico Paranaense e da Seleção do Paraná que também era chefe do DETRAN local e marido da escrivã do cartório cível da Comarca. Foi uma noite memorável que reuniu a sociedade faxinalense, aliás, a diretoria do clube sempre trazia cantores de prestígio para abrilhantar suas festas que atraia moradores das cidades vizinhas. Uns três meses antes tinha se apresentado o cantor Toni Angeli, em um baile de debutantes onde predominou a música italiana.
E com o Gregório o público poderia matar as saudades da boa música romântica e inesquecíveis tangos. E quem assistiu não se arrependeu pelo timbre forte e alto da voz do inesquecível artista, que estava acompanhado pelo seu violonista e maestro.
Este tratava o violão com todo o cuidado como se ele fosse um tesouro de valor inestimável. E quando terminou o baile com a derradeira música cantada por Gregório, o Mantovani convidou o cantor, o maestro e umas quinze pessoas, dentre estas o Juiz Mário Ráu, eu e minha mulher, para tomarmos uma canja de frango caipira em sua residência.
Foi por assim dizer: o prolongamento da festa. A noite já estava começando a dar espaço para os primeiros raios do sol. Em poucos minutos estávamos todos ao redor da mesa de jantar saboreando uma canja elaborada com esmero pela d. Maria Mantovani.
E depois fluiu uma conversa alegre e não faltou alguém dos convivas pedir ao Gregório que cantasse:
- Por favor nos dê uma “canja” da canja!
E o grande cantor não se fez de rogado pedindo que o maestro lhe acompanhasse. Este saiu por instantes para apanhar o violão que estava no interior de uma Van estacionada na rua. Neste lapso de tempo entrou na casa sem ser convidado o Promotor de Justiça da vizinha comarca de Marilândia do Sul, em visível estado de embriaguez.
Como ele era conhecido por todos os anfitrião não se importou com a sua presença. Em seguida o maestro trouxe o violão que estava guardado cuidadosamente dentro de uma caixa de couro e com todo cuidado retirou seu precioso instrumento levando-o ao peito.
E quando solava a introdução da música “solamente Una Vez” que era um dos cartões de visitas de Gregório Barrios, foi interrompido de inopino pelo Promotor “penetra” que lhe arrebatou o violão:
- Pelo amor de Deus, você toca mal pra xuxu! Deixe comigo que eu acompanho o Gregório!
O violonista ficou roxo de raiva e temendo que o pior pudesse acontecer com seu valioso instrumento. O Promotor tentou tocar alguma coisa, mas seu estado etílico não permitia que seus dedos obedecessem. Sem graça, por ele ser meu colega, tomei a iniciativa de tirar meu colega Sérgio do recinto.
Ele não se opôs e saímos juntos da festa até encontrar um conhecido que levou o Promotor para sua cidade. E quando voltei o Gregório estava terminando de dar sua “canja”. Logo em seguida ele e o seu violonista se despediram, entraram na Van e foram dormir em um hotel em Apucarana.
Foi uma noite que jamais esqueci e por isto estou escrevendo sobre ela. E foi a última vez que vi meu colega de Marilândia do Sul, pois quinze dias depois ele morreu em um acidente automobilístico no trevo da entrada da cidade de Faxinal...
“Nas cidades interioranas existe intensa atividade social. Inúmeros artistas se apresentam nos seus diversos clubes. E o Juiz e o Promotor que não usufruem destes momentos para conviver e conhecer seus jurisdicionados, não avalia o quão importante é as suas presenças nessas ocasiões. É bagagem que dá experiência de vida e um mundo de mil histórias.
Edson Vidal Pinto