Edson Vidal

O Telefone Celular.

Vamos e venhamos: mas a modernidade com o tal telefone celular como carrapato, que encarnou na maioria das pessoas, com certeza roubou de todas as tranquilidades e sepultou a privacidade. Nenhum telefonema está imune de ser interceptado por terceiro e seu conteúdo usado (às vezes) como prova.

Fico pensando como é que as pessoas eram antes  deste maldito aparelho, que inferniza e comprova que seus usuários são típicos masoquistas por não conseguirem mais viver  sem ele. Perdeu-se o silêncio e o esconderijo, pois ele está em todos os lugares tocando sem parar.

E mesmo sabendo que a conversa pode estar sendo gravada, com registro de hora, dia, mês e ano ninguém se importa em falar nele tudo que não deve ser dito. Que digam os políticos que caíram na esparrela de confessar suas mutretas e foram protagonistas de grandes escândalos que abalaram o país. Também caíram nesta teia Presidentes, Juízes, Procuradores, empresários e agentes públicos que não atinaram que a tecnologia pudesse ter avançado tanto a ponto de desmascarar e comprometer os desonestos.

Muitos destes, no entanto foram “inocentados” nos Tribunais que em determinadas circunstâncias não admitem ditas gravações como provas lícitas, sendo, assim, acobertados pelas filigranas do Direito. É difícil para o leigo aceitar que uma gravação contendo  a voz do acusado que confessa seu crime não possa valer para sua condenação. Sem aprofundar muito sobre o tema, é o que acontece na grande maioria dos casos. Mas voltando ao passado. 

Como era bom desfrutar a vida quando estes aparelhinhos não existiam. As pessoas conversavam e sabiam conversar porque tinham assuntos; às vezes um sorriso de alguém dava motivo para iniciar um bom papo, mesmo entre desconhecidos. Hoje, não. A pessoa entra na sala de espera do consultório médico ou de um dentista, não cumprimenta ninguém, senta, pega o celular, fica com cara de vão de cerca e deixa o mundo terreno para ficar absorto na ficção tecnológica. Só volta a si quando seu nome é chamado para ser atendido.

Depois da consulta passa pela sala de espera como se os presentes fossem inimigos mortais e sai sem olhar para trás. E as crianças? Sentam-se à mesa para comer e sem interagir com a família ficam vendo desenho animado na tela diminuta do celular.

O irmão idem; a mãe idem e o pai também. Na rua as pessoas falam tão alto no celular como se quisessem que os pedestres participassem  da conversa. A única certeza é que não são curitibanos.

Aqui, ainda sussurramos em público para falar, pelo menos os maiores de cinquenta anos. E até os cachorros que ficam em casa sozinha, enquanto seus “país” trabalham, tem um celular perto, que toca para quebrar a monotonia do animal. Pode? Pode, sim.

E o mais engraçado é ver casal de namorados, sentados em uma mesa de um restaurante japonês, esperando para serem servidos e cada qual entretido com seu próprio celular. Conversar que é bom, nada. Nem pegar na mão e nem roubar um beijinho. Pode ser até que vivam juntos sem estarem casados e que falar ou mexer no celular seja muito mais interessante do que a vida a dois. 

E não para por aí, não. Empregada doméstica que se preze tem seu celular para conversar com as amigas, discutir e fazer fofoca. Se a dona de casa reclamar a doméstica pede a conta e sai do emprego. Idosos também tem celular na esperança de que um filho ou um neto telefone. Vã esperança.

É mais fácil um preso telefonar de uma cela de Penitenciária exigindo dos idosos dinheiro de resgate porque um filho foi sequestrado, do que os mesmos receberem telefonema de sua prole e afins. Para os velhos o celular só serve mesmo para falar com outros parentes e amigos do coração. O meu celular pensando bem, ao menos serve para digitar minhas crônicas e me transportar para o meu imaginário. Mas não recuso nunca uma boa conversa, só não tendo é que manuseio esta máquina diabólica que distancia pessoas...

“Claro que o telefone celular é um meio de comunicação rápido e eficiente. Na modernidade ele veio para ficar. Cabe às pessoas saber o momento de manuseá-lo para o próprio entretenimento -, sem nunca deixar de interagir, quando conveniente, com outras pessoas. Pois o telefone celular não tem coração, nem sentimento e muito menos braços para agasalhar. Já as pessoas: têm!”
Edson Vidal Pinto

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