Edson Vidal

Edifício Brasilis.

Tirei dentre a fila de livros de minha biblioteca do escritório de meu apartamento, um de autoria de Wilson Wahrhaftig que tem o título “Eta Vida Boa!”, que é uma miscelânea de tudo que o leitor gostaria de ler quando está com vontade de chutar o balde. Verdade: pois tem de filosofia de vida, frases para meditação, até piadas para todas as idades.

“Em uma das primeiras páginas está grafada de um “famoso anônimo desconhecido”, a síntese que bem traduz o espírito de seu autor para publicar  sua obra:” 90 o/o do que escrevo é inventado, só 10 o/o é mentira”.

Pois, bem. Ao longo dos últimos dez anos foram publicados catorze livros tendo sido eu o seu único prefaciador, somente identificado agora por aqueles que leram os livros (um amigo encontrou alguns deles no “sebo”) e que esteja lendo estas linhas.

Mantive até aqui o anonimato por sempre constar de uma de suas páginas a seguinte observação: “Este livro é recomendado para as mais variadas ocasiões tais como batizados, formaturas, casamentos, reuniões, almoços, jantares, aniversários e velórios”.

Tudo suficiente para o leitor medir as vibrações e intensidade de suas leituras e por isto  não fiz questão de expor o meu nome, por motivos óbvios. Daí porque, do prefácio que escrevi no livro que tenho em mãos, agora, só vou me valer do seu título: “Edifício Brasílis”. Tudo mais é invenção; até por que o síndico é outro é só os condôminos são quase os mesmos.

Início afirmando que foi eleito na assembleia de condôminos do ano passado um capitão, morador recém-chegado no edifício, que desde a sua posse tem procurado moralizar (sem muito êxito) a balbúrdia deixada pelo sua antecessora, agora moradora em Porto Alegre, que vive nababescamente à custa dos contribuintes.

E antes dela foi síndico um sujeito tido como cleptomaníaco por ter se apossado do dinheiro do fundo de reservas e de algumas obras artísticas, inclusive tapetes, elevadores e os azulejos coloridos da parede frontal que ornamentavam o prédio.

Ele mudou para Curitiba onde está hospedado em um uma suíte na Superintendência da Policia Federal. E não quer deixar o lugar por nada! Só que jura que é inocente; um vestal entre pecadores. No apartamento 401, a proprietária d. Benedita, mulher de gênio forte e guerrilheira de carteirinha, lamenta que seu aliado a Maria Louca tenha saído da cobertura, pois ele era locatário e fora despejado pelos seus eleitores.

Ela choraminga dia e noite a ausência do mesmo, pois ambos tinham articulado impedir que o síndico cobrasse as taxas atrasadas do Sr. Geddel, morador do apartamento 802, que perdera uma montanha de dinheiro na  sala de visitas do apartamento de um amigo e ficara sem um níquel para pagar seus débitos.

Lá no vigésimo sétimo andar, no apartamento 2.101, de propriedade do Maia, filhinho de papai, tem mania de grandeza e passa o dia articulando com inúmeros moradores o impeachment do síndico. Pois ele quer a todo custo assumir o posto. Não conseguiu ainda.

O zum-zum-zum da fofoca fica na insistência do capitão teimar em querer que um de seus filhos seja nomeado chefe da portaria do edifício, contrariando ao que dizem as regras da convenção do condomínio. O morador do 14o. Andar, de nome FHC, espalhou dentre todos os moradores que se caracteriza nepotismo -, exigindo uma nova assembleia para decidir a questão.

O Dirceu, Gleisi, Mercadante, Rosinha, Chico Buarque, Francisco e todos do Fórum de São Paulo, além de jornalistas do Estadão e da Folha de São Paulo, que moram no apartamento 1.802, uma república das mil e uma noites, juraram que vão apoiar o FHC. O dono da Havan, o bispo Edir e o apóstolo Valdomiro, residentes nos apartamentos 4.101, 5.101 e 6.101, respectivamente, disseram nos corredores que apoiam o síndico e vão combater o bom combate.

O Edifício Brasilis apesar de estar sendo administrado a trancos e barrancos, pois até aqui as propostas para colocar em ordem a casa está encontrando ferrenha oposição, tem encontrado mais resistência por parte de tal de Gilmar, não morador do local, mas que tem concedido habeas corpus para quem se opuser às novas regras. E também os que se dizem “do contra”.

Dentre estes estão os filhos que vivem à custa dos pais e que não trabalham. Mas o capitão é casca grossa, até aqui não se deixou levar pelo poder e nem cometeu nenhum ato de corrupção. Conta com o apoio e prestígio do Sr. Moro, um ex-funcionário público morador no primeiro andar e que tem costas largas para sustentar todo o peso negativo do prédio; e conta com a ajuda do jornalista Alexandre Garcia, condômino do apartamento 1.902.

Todos os dias os repórteres da Rede Globo ficam na frente do prédio esperando que ele pegue fogo, desmorone ou exploda. Este é o nível do velho “Edifício Brasilis” que antes era mais conhecido pelo nome de “Balança mais não cai” -, mas que daqui há alguns anos poderá mudar de nome para “Edifício Verga mais não quebra”. Será?

“O Brasil parece um edifício cujo condomínio é de moradores tresloucados. Nos corredores fumam maconha, tem jogos de cartas marcadas, tocaias, Capelinhas e aproveitadores. O sindico quer colocar tudo em ordem, mas a oposição não quer. Muitos condôminos torcem para que o ex-síndico, de nove dedos e meio, volte e assuma o cargo que desempenhou com tanta competência. Quer imbróglio maior? ah, lembrando: ainda tem apartamentos para comprar ou alugar. Alguém se habilita morar no “Edifício Brasilis”?
Edson Vidal Pinto

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