Calça Velha.
Tem roupa que nós compramos ou às vezes ganhamos de presente que se torna a nossa preferida; não que seja a do melhor tecido, grife valor ou qualquer outra coisa, ela é a que mais usamos porque nos sentimos bem.
Antes de alinhavar o porquê do tema escolhido para esta crônica, não posso deixar de citar um episódio acerca de um chapéu que eu tive, tipo Eliot Ness, que eu achava que minha noiva gostava de me ver usando. Eu então me achava o máximo. Era um modelo clássico da chapelaria “Cury” e que na época as pessoas de bem desfilavam com ele nos melhores ambientes sociais.
Bastava esfriar um pouco e lá estava eu com meu inseparável “sombrero”; era eu e o Humphrey Bogard no filme “Casablanca”. E quando casei o dito chapéu fez parte do meu “enxoval”.
Se a memória não me trair acho que foi no segundo mês após as bodas, quando eu estava com minha esposa (e com meu chapéu) dentro do nosso carro, um Volks, modelo sedan, trafegando pela Rua João Negrão, e como fazia calor os vidros dianteiros do veículo estavam abertos.
De repente quando o carro estava sob a “Ponte Preta”, vi pelo espelho retrovisor o meu chapéu voar e cair sob o rodado dianteiro de um caminhão carregado, que vinha logo atrás.
Olhei para minha mulher espantada e ela com um sorriso maroto nos lábios me disse:
- Não fique aborrecido comigo, mas nunca gostei daquele chapéu horroroso de gente velha!
E eu sempre pensei que ela gostava do meu chapéu! Nunca mais comprei nenhum outro, hoje, calvo, no frio uso boina de lã e boné. Não sei se ela gosta ou não, mas nunca jogou nenhum deles pela janela do carro ou do nosso apartamento -, acho que ela tem pena de mim porque sinto frio na careca.
E agora voltando a crônica propriamente dita, sobre a roupa preferida. Quem não tem uma, não é verdade? Eu tenho uma calça jeans que é meu xodó. É velha, não tem mais cor, está esfiapada nas barras das pernas, calculo que tenha uns três ou mais anos de idade, não me incomoda em nada e tem a perfeição de cair como uma luva em meu corpo.
Claro que só uso ela em casa, não ouso atender nem telefone quando eu estou vestindo minha relíquia. Desconfio que por usar meu jeans preferido só em cada, minha mulher ainda não tenha imaginado o pior. Torço que não. Sabe por quê? Porque a moda hoje em dia é tão fora de bom senso que as pessoas vestem de tudo, ninguém liga e tudo é permitido.
Como sou um bom observador e crítico, às vezes tenho pena das meninas-moças (de boas famílias) muito bem vestidas, andando graciosamente pelas calçadas e tendo ao lado um namoradinho de sandália, bermuda e camiseta cavada. E isto quando o infeliz não ostenta aquelas tatuagens que parecem feitas dentro dos presídios.
E a minha calça? Ah, sim, vejo futuro venturoso para ela. Explico. Os ricos de um modo geral pagam uma nota para comprar na melhor butique do shopping uma calça jeans, rasgada e velha.
Pois, é. Pelo andar da carruagem acho que brevemente a minha calça preferida de tão fina que está, logo, logo, vai começar a rasgar e furar em vários lugares. E daí eu vou poder sair com ela pela rua, frequentar festas, almoçar em restaurante e, inclusive, atender telefone!
E considerando o custo de vida, ao invés de comprar roupa e pagar uma fortuna, é bem melhor usar qualquer peça de vestuário velho, amassado, rasgado, triturado, de péssimo aspecto, para merecer admiração e o respeito dos concidadãos...
“Não existe mais roupa nova e nem velha, pois tudo é a mesma coisa pois vem do mesmo balaio. Comprar com grife ou no brexó não tem diferença na aparência, apenas no preço. O bom da moda atual é que qualquer roupa é interminável. Ela pode ser usada até se tornar invisível”.
Edson Vidal Pinto