Edson Vidal

Fuso Horário

Enfim ontem à noite cheguei a Guaratuba! Neste momento estou refestelado na cadeira em frente de casa, vendo o céu azulado e o sol a pino. O calor da manhã está ameno porque o vento do mar ludibria a sensação sufocante do verão paranaense. Na rua tem pouco  movimento de veículos e pedestres, o velho balneário aos poucos está voltando a sua tradicional rotina e nem parece que estamos em plena época de veraneio. O agito maior fica reservado para os finais de semana. E eu estou um pouco tonto -, sentindo, ainda, os reflexos do fuso horário. 

Claro, não poderia ser diferente, porque descer  a Serra do Mar é sempre uma experiência que se renova. Pois vencer os novecentos e poucos metros de altitude acima do nível do mar em menos de meia hora exige preparo físico e mental, só comparado com pilotos de porta-aviões. E pensar que fiz isto dirigindo um automóvel. 

Entrei na rodovia Alexandra - Matinhos no lusco-fusco do cair da noite e enfrentei uma fila quilométrica de carros que vinham em sentido contrário, retornando à Curitiba. Eu me senti um verdadeiro desocupado, pois enquanto essa turba voltava para hoje trabalhar e dar duro, eu estava indo em direção ao mar para enfrentar o ócio nosso de cada dia. 

E o pior de remar em sentido contrário a correnteza de carros com as luzes acesas foi encarar de olhos abertos os faróis que chegavam a atrapalhar minha visão. E quando cheguei ao glorioso Ferry boat para atravessar a baía, começou a garoar. Dentro dele só o meu veículo, dando certo ar de total mordomia. 

Em compensação na rota ao inverso as balsas estavam estupidamente lotadas. No trajeto marítimo fiquei pensando na incompetência do governo estadual por não construir uma ponte sobre o mar, a fim de incentivar o turismo da região. Com certeza o governador que tiver vontade e “peito” para acabar com o monopólio das balsas escreverá seu nome na história. 

O Ratinho poderia ao menos iniciar a sua construção para justificar sua opaca passagem no Palácio Iguaçu, mas acho que seria exigir muito dele e de sua equipe de ilustres politiqueiros. Cheguei exausto no aconchego de meus familiares. Dormi bem, só acordei fora de prumo por causa do maldito  fuso horário, que não permite que eu pense muito. Nem sei o que escrevi até aqui, acho melhor parar para não perder a fleugma. Vou enfrentar a piscina que está me esperando, afinal só penso, mas não sou de ferro...

“Enfim cheguei com todo o meu ócio em Guaratuba. Depois de percorrer a rodovia em que todos subiam para Curitiba e só eu descia para o litoral, dormi e acordei com a cabeça confusa. Sei que é o fuso horário. Por isso, vou  entrar na piscina para ver se encontro minhas ideias e pensamentos, que com certeza devem estar dentro dela!”

Edson Vidal Pinto

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