Caranguejada!
Pois é, como hoje é domingo resolvi escrever amenidades, deixando de lado as preocupações do cotidiano, para adentrar no misterioso mundo da culinária. Não, positivamente cozinhar não é, e nunca foi minha praia, mas aprecio um prato de comida bem feito, preparado com requinte e esmero. E como só sei fazer ovo no espeto e ninguém acredita não me furto em participar de uma mesa onde é servida uma boa refeição. Não escondo de ninguém que invejo quem sabe domar os segredos de um fogão, ainda mais hoje dia, pois seria um ótimo partido para as mulheres que sonham casar com um homem. Dito isto, vamos ao que interessa.
Ontem foi um dia diferente porque participei de um almoço em que o menu foi caranguejada, na companhia de colegas da faculdade e alguns ilustres agregados na residência do amigo Aldo Wolff, localizada no Parque Barigui. Tá, tudo bem, sei que muitos não gostam nem de ouvir o nome do bichinho, quer pelo seu aspecto desengonçado, quer pela dificuldade de tirar algumas “carninhas” no meio de sua armadura de serrinha. E por falar nisto estou digitando as teclas de meu celular com dor nos dedos das mãos porque estão arranhados, em virtude do dolorido ritual empregado para comer os dito cujos. E sempre que me deparo com o caranguejo logo me vem na cabeça a coragem do nosso ancestral que comeu pela primeira vez esse “fruto” do mar, pelo aspecto já referido, além de ter que descobrir por onde começar a comer a pouca carne escondida entre as garras, pernas e carapaça.
O pobre “pioneiro” deveria estar com uma fome daquelas, sem o qual não chegaria nem perto e muito menos se atreveria pegar o caranguejo. A maior dúvida que antecedeu o encontro foi pensar como o nosso anfitrião, de notória estirpe alemã e um exímio mestre-cuca que prepara um delicioso eisbein (joelho de porco), poderia se atrever em oferecer uma caranguejada que fugia totalmente de seu tradicional cardápio. E surgiram muitos boatos a respeito. Tudo porque ele recusou terminantemente a ajuda daqueles que sabiam temperar e preparar os caranguejos.
Dias antes eu sugeri que o caranguejo fosse servido com feijão, farinha e salada de cebola. Houve reações contrárias. Mas eu estava defendendo o que seria possível comer, se o caranguejo desse chabú. Quando a origem germânica do cozinheiro não combina com o quitute programado, o melhor é achar uma alternativa para, na tragédia, disfarçar a fome até a hora de ir para casa. Mas não há de ver que tudo saiu a contento; quem comeu gostou e se arregalou com as cinco dúzias e meia desses bichinhos. É verdade que o Prof. Rodhes (dos velhos cursinhos para vestibular) e o médico e Prof. João Salum, deram uma pequena mãozinha: o primeiro arremessou umas pitadas de sal no panelão e o segundo abriu a tampa para ver se tudo estava nos conformes. Foram duas colaborações oportunas, mas, sem nenhum demérito para o cozinheiro-mor. E pensar que uns e outros desprezaram os caranguejos e comeram costelinhas de suíno e picanha. É lamentável, pois não sabem o que perderam...
“ Como vale a pena viver em família e quando se tem amigos que podemos contar e compartilhar nossos momentos. A nossa confraria começou há mais de 57 anos; e com certeza, enquanto um só estiver vivo, estaremos todos vivos em um só coração. Porquê? Porque queremos que seja assim!”
Edson Vidal Pinto