O Confinamento
Desde que disseram que o coronavírus chegou em Curitiba estou perdido no tempo e no espaço do meu apartamento. Nos últimos doze dias fiz de tudo um pouco, medi três vezes a metragem do imóvel para saber se a medida corresponde ao contrato de Compra e Venda, mas não encontrei um milímetro a mais e cheguei à conclusão de que o construtor foi um pão-duro daqueles. Desde que disseram que o coronavírus chegou em Curitiba estou perdido no tempo e no espaço do meu apartamento. Nos últimos doze dias fiz de tudo um pouco, medi três vezes a metragem do imóvel para saber se a medida corresponde ao contrato de Compra e Venda, mas não encontrei um milímetro a mais e cheguei à conclusão de que o construtor foi um pão-duro daqueles.
Também, por pura sobra de tempo, medi se a altura (pé direito) do imóvel estava dentro das especificações da planta que me foi entregue e não descobri nenhuma imperfeição. Dei cambalhotas no corredor que interliga os quartos sem nenhum motivo justificável, foi daí que parei, pensei e cheguei à conclusão que estou estressado da clausura. Ops, estressado por não fazer nada além de dormir, ler, assistir TV, conversar com minha mulher e olhar da varanda o Parque Barigui fechado? Não é possível, mas é.
O ócio cansa mais do que escalar o Everest ou assistir um jogo do Paraná Clube. No meu telão já assisti filme chinês e até russo e o pior de tudo foi que eu gostei. Estou completamente fora de sintonia pois estou gostando de tudo que tenho feito, mas quero sempre novidade, coisa diferente para fazer e parece que já esgotei o meu estoque de distração. Minha mente criativa também está perdendo o élan, pois quando tento me concentrar os meus olhos vão fechando aos poucos e cochilo.
Ah, cochilar faz parte do cardápio do tédio pois não precisa muito para entrar em “alfa”. E cochilar já cochilei em todos os lugares: só não de pé porque tenho medo de cair. E eu que sempre escrevi que o tempo passa tão rápido que falta tempo para tudo. Ledo engano. Na clausura nós ficamos cientes de que tempo é fator de preferência; podemos fazer qualquer coisa basta querer. A vontade é que não acompanha o tempo, mas tudo é uma questão de ajuste.
Claro que o teclado do meu celular já está gasto de tanto dedilhar e compartilhar com os amigos todas as besteiras editadas na mídia social, com certeza para muitos sou considerado um chato e inoportuno. O bom é que ninguém reclama e eu me iludo que estou agradando. Pensando bem só está faltando mesmo eu fazer crochê para matar o tempo mas ainda bem que nunca aprendi, nada contra os meus amigos que crocheteiam escondido pois não quero ser rotulado de “machão”.
E muito menos tenho contra àqueles que cozinham e fazem apetitosos pratos que fazem inveja há muitas mulheres, nada contra. Sem cozinhar estou engordando imagine se cozinhasse como aqueles homens desocupados que fazem comida na televisão. Eu não andaria, sairia rolando. Eu não sei como será o transcorrer desta semana se o governo não acabar com a ordem de reclusão, estou com comichão nos gorgomilos com vontade de dar uma volta de carro pelo Parque Barigui, mas com as janelas abertas, mesmo contrariando o Alcaide.
E se eu avistar um coronavírus no ar, fecho as janelas rapidamente, deixo de respirar por uns dois minutos, daí volto chispando para casa. Por quê? Porque tenho medo do coronavírus-, mentira, pois até gostava dele quando morei no interior do estado, só que lá ele tinha outro nome: chuveiro!
“Cair no ostracismo para os gregos era expulsar do país o homem público corrupto. O banimento era de dez anos. Nada parecido, claro. Só que naquela época o condenado imigrava para outro país e mais nada. E nós aqui, hein? Sem praticar crime algum e com medo do vírus chinês estamos submetidos ao regime prisional fechado. Dá prá entender?”
Edson Vidal Pinto