Edson Vidal

Dei uma de mandrake

Tá, resolvi furar a ordem de quarentena imposta pelas “autoridades” médicas porquê de duas uma: ou tomo uma medida drástica ou vou parar no Pinéu. Quando tudo parece se acalmar aparece um chato qualquer, que não tem opinião para nenhum dos lados, e começa a colocar minhocas na cabeça da gente afirmando que a pandemia ainda não chegou no pico e que ninguém deve sair de casa nem para trabalhar. 

Embora aposentado eu tenho compromissos porque sou voluntário em várias ações de suma importância para a comunidade, no entanto, tenho que permanecer engessado sem ter nenhum osso quebrado. E o pior é que todo mundo manda: a OMS que nem conheço como funciona; cinquenta e sete milhões de médicos infectologistas que nem sei se são formados; os governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo que parecem deuses do Olimpo; o Ministro da Saúde que sabia mas agora não sabe bem o que é melhor para prevenir o vírus; e o Ministério Público que não quer que ninguém trabalhe, viva de pó e fique de papo para o ar como petista. Não, sou rebelde sim, decidi respirar o ar puro do Parque Barigui. 

E como sei que o Prefeito da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais mandou a Guarda Municipal fechar a sete chaves o parque, resolvi sair de casa fantasiado de Mandrake. Lembra dele? É um famoso mágico e ilusionista que ilustrou um gibi com seu nome nas décadas de cinquenta e sessenta, tem uma namorada chamada Narda (que hoje deve ter uns oitenta ou mais anos de idade) e um amigo negro, parrudo  (tipo guarda-costas) de nome Lothar. E por quê escolher este personagem?Porque ele faz ilusionismo, hipnotiza as pessoas e desaparece de suas vistas num piscar de olhos. Assim, vesti o fraque, coloquei a gravata borboleta, a cartola, as luvas, apanhei a varinha mágica nas mãos e sai pela rua em direção ao meu objetivo.

Ninguém notou quando eu passava porque as máscaras nos rostos das pessoas atrapalhavam tanto que a preocupação das era puxar, ajeitar, colocar para baixo, para cima, para o lado e uma parte da máscara sempre tapavam seus olhos. Sem dificuldades cheguei no parque, pela parte dos fundos onde para o helicóptero, quando vi um guarda municipal impedindo a entrada. Zasp, com minha varinha, hipnotizei o pobre homem que não me viu invadir o território público e rapidamente pisei na pista de caminhadas. Aspirei o ar puro tantas quantas vezes era possível para oxigenar meus frágeis pulmões, andei devagar e sempre, vi as capivaras dormindo no sol, as aves voando em bandos e quando tudo estava saindo conforme eu planejara, ouvi uma voz atrás de mim:

- Como você furou o bloqueio da Guarda?
Me virei e dei de cara com a Maria Louca, vestido de calção, calçando tênis e sem camisa.
- E você? - repliquei na hora.
- Com minhas carteiras de Governador, Prefeito, deputado estadual e Senador. E você?
Pensei um pouco e respondi:
- Com minha varinha mágica!
- E quer que eu acredite?
- Claro que sim!- retorqui de pronto. - Se você acredita na Carta de Puebla, no Foro de São Paulo, na inocência do Lula, na inteligência da Dilma, na pureza da Amante, por quê você não vai acreditar na minha varinha?
- Você está gozando da minha cara, não admito isso, seu almofadinha...
- Almofadinha não! Almofadinha só o Dória, eu sou o Mandrake!!!
Pois não há de ver que o cara ficou tiririca da vida e me ameaçou:
- Vou quebrar seu dedinho da mão!
Zasp, em um novo golpe com minha varinha sumi das vistas do homem, fui me afastando e ele ficou me procurando. Apressei o passo e dei uma volta inteira pelo parque. Quando procurei sair pelo mesmo lugar em que entrei, antes de ludibriar a boa-fé do guarda municipal, olhei em direção a Maria Louca e vi que ela continuava me procurando atrás de uns arbustos. Ri comigo mesmo.

Voltei para o meu apartamento, tirei e guardei minha fantasia, depois tomei um bom banho e fui sentar na poltrona favorita de meu escritório. Só então me deu dó. Estava anoitecendo e a temperatura caindo. Peguei o telefone e falei com a mulher do dito cujo, minha vizinha de bairro, contei o encontro que tive com seu marido teimoso e turrão e pedi para ela ir até o parque buscá-lo, pois com certeza ele ainda estava me procurando para que não ficasse no frio e pudesse contrair o coronavírus. Ela me agradeceu. Eu dei um suspiro de alívio e agradeci ao Mandrake por ele não ser um homem de má índole ...

“Socorro! Onde posso respirar ar puro? Se saio na rua a carrocinha que pega velhinho me apanha. Se ando de carro, não apanho sol. O Parque Barigui está fechado. Que loucura! Só usando da criatividade para suportar tantas opiniões desencontradas e absurdas!”

Edson Vidal Pinto

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