Dois bicudos não se beijam
Terminado o vendaval que sacudiu o país e possivelmente acabou com a pandemia, pois até a Rede Globo deixou de noticiar as milhares de mortes no seu necrológico noticioso, a vida dos brasileiros no que tange ao noticiário político está voltando ao normal. Tudo passa e ninguém é imprescindível no Ofício Público. O Presidente continuará Presidente apesar da enxurrada de críticas que se lhe atribui pela exoneração do Diretor-Geral da Polícia Federal, que motivou na deselegante saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça.
Na verdade, bem verdadeira, ambos saíram perdendo em uma briga sem glória. Por quê? Basta ir às origens de suas formações profissionais para tentar explicar o porquê: um pertencente a linhagem militar alicerçada na hierarquia (manda quem pode e obedece quem tem juízo); o outro alinhado na postura que a Toga impõe (está decidido: cumpra-se!). Acontece que o Bolsonaro tem o poder de mando nas mãos; e o dr. Sérgio Moro assumiu um cargo político e se esqueceu de desvestir a Toga.
E numa discórdia mínima motivada pela vontade do Mandatário-Mór em querer substituir uma peça do tabuleiro do Ministério da Justiça, o titular deste sabendo desde o mês de agosto do ano passado a intenção dessa substituição, ao invés de encontrar uma saída política (Exemplo: pleitear a indicação do dr. Valeixo como adido em uma Embaixada no exterior, cargo que já exerceu com inusitada eficácia na Embaixada do Brasil em Washington) simplesmente optou por peitar a autoridade presidencial. Consequência?
A desavença política da última sexta-feira. E as insinuações feitas pelo ex-Ministro em uma coletiva à imprensa no apagar das luzes de sua saída, do porquê o Presidente querer afastar o Chefe da Polícia Federal, demonstrou o despreparo do dr. Moro no contexto do palco político pois deu farta munição aos adversários, à pior Imprensa, cuspiu no prazo que comeu e colocou em cheque a retidão e bons propósitos do Presidente no exercício do cargo. E no jogo das vaidades perdeu quem não tinha o poder de decidir.
Duas situações devem ser sopesadas para uma análise real, - a primeira a de que o Bolsonaro ganhou a eleição, não por ser o mais qualificado para o cargo, mas porquê dentre os candidatos era a única opção plausível; e a segunda, que o dr. Moro era um Juiz como qualquer outro, só que foi bafejado pela Mídia quando caiu em seu colo os Inquéritos da Lava Jato. Tanto é verdade que antes destes inquéritos ninguém citava o dr. Moro como o “ícone” da Magistratura do Brasil. É claro que ele tirou proveito dos holofotes e microfones quando os jornalistas lhe procuravam em busca de notícias sensacionalistas, afinal eram inquéritos que envolviam ex-Presidente, políticos de nomeada, gestores públicos e empresários de grande poder econômico.
E fosse outro Juiz com igual jurisdição para decidir iguais processos com certeza teria igual destaque na Imprensa, mas continuaria na Magistratura. O dr. Moro foi mordido pela mosca azul e achou que ser Ministro de Estado seria o caminho mais curto para entrar no STF. Só que o mundo político é um teatro pastelão, cada minuto é diferente do outro, palavra empenhada pode ser revista há qualquer momento, nada do que parece é, nem a decência e nem as promessas públicas. O Dr. Moro como optou por este novo caminho vai ter que continuar andando dentro dele, desde que se sujeite as injunções momentâneas e saiba conviver com os contrários. E o Presidente?
Como eu disse continuará Presidente, mas para que tenha futuro na vida pública deverá temperar seu ímpeto altivo, recompor a credibilidade e primar pela transparência de seus atos. E para isto deverá deixar de interferir na vida de seus rebentos a fim de que estes não ofusquem sua biografia e nem comprometam seus bons propósitos com a Pátria.
E com certeza terá que convencer seus eleitores para continuarem perfilados na sua futura campanha, o que não será uma tarefa fácil, muito menos impossível. Dependerá dos seus próximos passos, atitudes e gestos, principalmente, do emprego de palavras sensatas que busquem unir e não dividir...
“Sempre escrevi que votei no Bolsonaro por falta de melhor opção. E apesar de tudo ainda acho que não errei. Na política descer e subir do governo é mera circunstância de momento. O adversário nunca será convidado para assumir cargo nenhum; o político sempre vai aspirar um cargo relevante no governo; e o Juiz vocacionado só optaria por deixar a Magistratura se tiver tempo de aposentadoria, para daí continuar servindo a Pátria sem entrar em uma aventura política. Palavras escritas apenas para reflexão, nada mais!”
Edson Vidal Pinto