Edson Vidal

Oito Horas de Blá, Blá, Blá

Fico pensando como um depoimento prestado em uma repartição policial pode demorar oito horas, quando um crime por mais complexo que seja para ser explicado por qualquer testemunha, não enseja tamanha perda de tempo. Como profissional sempre primei pela objetividade; quando Promotor de Justiça minhas denúncias eram cirúrgicas, pois eu descrevia o evento delituoso com precisão contendo todas as circunstâncias do fato que se estava imputando ao acusado; e como Magistrado, primei pela elaboração de acórdãos sucintos e fáceis de serem entendidos. Aliás, a bem verdade, como a grande maioria de meus colegas. Por quê? Porque quem escreve demais tende a ser repetitivo, exagerado e chato. Idêntica regra também se aplica nos julgamentos orais e nos debates do Tribunal do Júri. 

E os interrogatórios do Lula perante o então Juiz Moro não foram quilométricos? Foram e quem assistiu pela TV viu muito blá-blá-blá que sequer foram mencionados na sentença condenatória. Foi mais jogo de cena do que matéria de defesa do réu. Ora, na vida prática quem não sabe esclarecer ou explicar o que está pretendendo dizer ou então escrever no menor lapso de tempo possível, de duas uma: ou é prolixo; ou é mentiroso. Presumo que o dr. Moro não seja mentiroso, muito menos ao prestar no último sábado o seu longo depoimento na Polícia Federal. Prefiro no primeiro momento achar que o mesmo seja prolixo ou então que tenha coletado ao curso de quase um ano e meio em que esteve Ministro da Justiça, uma “enciclopédia” de provas que culminará na renúncia do Presidente Bolsonaro. 

Sim, porque contra provas não há argumentos. Esta é a a regra válida no mundo jurídico. Claro que não se pode precipitar nenhum julgamento açodado sem antes saber quais as provas que o denunciante apresentou na delegacia, para se aquilatar se são válidas ou não. E só será possível avaliá-las quando reproduzidas por fonte que mereça credibilidade. Como existe na primeira hora muito fake é mais prudente esperar um ou dois dias para opinar. No entanto não parece lógico que o depoimento tenha levado tanto tempo apenas para o denunciando provar que o Presidente interferiu ou procurou interferir em inquéritos que tramitam na Polícia Federal. 

Não tem a mínima lógica. Lembrando que se o Bolsonaro queria porque queria exonerar o Valeixo do cargo, e insistia de quando em quando com o seu Ministro da Justiça para consumar sua integração, que isto, isoladamente, não caracteriza nenhuma ilegalidade. É sabido e consabido que no exercício de seu mandato o Presidente da República pode exonerar ou morar qualquer ocupante de cargo em comissão da administração direta, quando bem entender. Todavia se o dr. Moro provar que a intenção do Presidente ia além do que dizia para exonerar, daí, sim, caracterizarem tese crime de responsabilidade do mandatário. 

Com um porém: se o dr. Moro há tempos tinha conhecimento da intenção delituosa do Presidente e não tomou nenhuma medida legal, ele também é passível de censura penal.  No entanto prefiro não tirar ilações por não conhecer (bem) que provas teriam sido apresentadas e seus respectivos conteúdos. 

Porém uma coisa é certa para o lado do dr. Moro que tem o ônus de provar as insinuações feitas no arroubo de sua ira: ou prova o que disse ou sofrerá as consequências pelo seu descrédito. Num português simples de se entender: “se ficar o bicho come; se correr o bicho pega”. Quem diria, hein?!..


“Falar publicamente de cabeça cheia e irado é a fórmula mais fácil de cair em desgraça. A língua é o chicote da bunda. Mesmo aqueles que tem língua travada não deram importância ao freio natural que tinham e acabaram presos. Eis uma verdade insofismável que os homens públicos teimam em não acreditar.”

Edson Vidal Pinto

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