Cochichos no Parque
Da varanda do meu apartamento eu tenho uma vista privilegiada do Parque Barigui da onde aprecio a paisagem que não canso; e hoje resolvi olhar o parque apesar do ar gelado mas com o sol a pino, porque estou de quarentena por recomendação até nem sei bem ao certo de qual dos médicos, pois todos eles só falam “naquilo”. Claro que me refiro na mamona assassina que veio de longe e que nem o português consegue falar.
Olhei saudoso o lago que está sumindo pela praga da estiagem -, nele não dá nem para colocar mais os barquinhos com cara de “patinho” que o Lula tinha no sítio que não era seu, para os netinhos brincarem. Mas o vento gelado que soprava em minha direção me fez ouvir os cochichos de alguns habitantes do parque:
- Pedrinho. - falou um capivara para o outro.
- Fale Nanico ...
- Estou de saco cheio por não ver ninguém andando ou ocorrendo no parque.
- Pudera, o Prefeito mandou fechar o acesso e ninguém pode entrar na área, nem de automóvel e muito menos a pé.
- ?
- Não sabia?
- Ah, por isso não vejo mais nenhum humano nas redondezas ...
- É por causa da tal da mamona que veio da China e está matando tanto quanto a dengue.
- Então Nanico me diga: acabou a dengue?
- Que nada Pedrinho, sabe aqueles mosquitos que vem por aqui beber água? Pois é, eles transmitem a doença só que a Rede Globo não fala mais deles ...
- Caíram de moda?
- Mais ou menos, me falou o Bob ...
- Quem?
- Aquele capivara que fica sempre dormindo e roncando do lado direito do lago.
- Ah, sei.
- Ele ouviu dizer que o mosquito da dengue não serve para derrubar Presidente, por isto não está dando mais Ibope e saiu da programação.
-Putz, o parque perdeu a graça pois gente faz falta...
- Ei, Pedrinho, olhe lá na direção da ponte dos fundos ...
- Onde? Não estou vendo ... Ah, acabei de ver ...
- É ele?
- Sim, é ele! O chato do Maria Louca só de calção, andando diariamente no porque por ser desobediente de natureza, desobedecendo acintosamente as ordens de “reclusão social”.
- Mas ele está certo!
- Como, assim? A restrição é para todos ...
- Não para ele: pois é o único que “adora” comer mamona, logo são os bichinhos que tem de correr para ele não alcançar ...
- Ih, sabe que você tem razão?
E os dois capivaras rolaram pela grama em gostosas gargalhadas. Eu que estava longe ouvindo, quase caí do décimo quinto andar do prédio. Foi quando o vento vindo do parque soprou mais forte e pude ouvir um ganso dizendo para o outro:
- Por quê será que os dois capivaras estão se rachando de rir?
- Devem ter contado para eles que o Presidente em plena pandemia iria jogar bola no Alvorada, só que não foi. Disse que nunca falou e que tudo é uma grande mentira.
- Mas Uliair, veja bem, eu ouvi no noticiário da Rádio Bandnews que o Mourão até confirmou para um repórter que foi convidado para o jogo!!
- O Mourão falou, Aldo?
- É o que ouvi no rádio.
Daí foram os dois gansos que rolaram na grama de tanto rir.
- Logo o Mourão ?!!
E as gargalhadas não pararam mais. E como friozinho estava gelando minha nuca, saí da sacada, com medo de pegar um “resfriadinho”. Olhei pela porta de vidro o Parque Barigui e vi o velhinho, de cabeleira branquinha, só de calção, andando pela pista, imune ao Covid-19 e sem saber que as capivaras curitibanas estavam rindo da sua cara ...
“Com a proibição imposta pelo Prefeito e sua digna esposa, não vá querer desobedecer a ordem e andar pela pista do Parque Barigui. Porque os bichos reparam tudo e são tremendos gozadores urbanos. Se não acredita? Apareeeeeçaaaaaaa! “
Edson Vidal Pinto