Edson Vidal

Loas para quem merece

Não é fácil sair da vida pública depois de exercer cargo político sem sofrer desgaste pessoal. Mas tem muitos que conseguem e continuam respeitados. Lembro de alguns e hoje vou falar de um que conheci pessoalmente e o faço em honra a sua memória. 

Digo antes de mais nada que nunca comunguei com sua ideologia, mas sempre respeitei sua opção. E convivemos como bons amigos e colegas. Eu conheci o dr. Hélio Bicudo na sede do Ministério Público do Estado de São Paulo, na época em que ele como Promotor de Justiça daquele estado estava com risco de sua própria vida enfrentando perigosos e temidos quadrilheiros intitulados “Esquadrão da Morte”. Eram milicianos que faziam Justiça com as próprias mãos. 

E o dr. Hélio era o personagem de destaque da Imprensa nacional , por seu estilo simples porém decidido de combater o crime. Foi num simpósio que reuniu Promotores e Procuradores de Justiça do Brasil que ele palestrou, contando sobre sua atuação no inquérito e no processo em comento. Na ocasião ele fez questão de enfatizar que não era melhor do que nenhum de seus colegas pois estava cumprindo seu dever profissional, tal como eles fariam se estivessem em seu lugar. Fez questão de enfatizar que a publicidade em torno do seu nome era simplesmente passageira. 

Anos depois, já aposentado, ele foi deputado federal quando então tive o privilégio de manter longa conversa com o mesmo no Ministério da Justiça, logo após a solenidade em que o então Presidente Fernando Henrique Cardoso tinha sancionado a Lei que proibia menores de catorze anos de trabalhar. Lei esta do qual o dr. Hélio foi um dos autores. Na ocasião manifestei minha divergência com relação a lei sancionada e discutimos a respeito no mais alto nível. Tenho para mim até hoje que tirando apenas o trabalho perigoso, a criança de dez e mais anos pode sim começar a aprender um ofício sem danos a sua formação e personalidade. 

No campo das idéias sempre é bom divergir para surgir boas soluções. E o dr. Hélio gostava como eu ainda gosto de uma boa discussão. Mas como registrei no início não comungava com a sua ideologia e muito menos por ter sido um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, mas sempre o respeitei pela sua postura e alto conceito moral como homem público. Vale lembrar que ele anos depois, quando enxergou a intenção criminosa dos integrantes do PT de querer dilapidar o país, denunciou em convenção e depois publicamente as falcatruas e se desfiliou do partido que fundara para nunca mais voltar. Morreu e deixou saudades. Pois é, bem que a biografia do dr.

Sérgio Moro poderia ter sido igual, se ele não tivesse ficado deslumbrado com a fama passageira. E pensar que os defensores do juiz Moro não aceitam que lhe critiquem por atuação distante da Magistratura por entenderem que ele foi um herói  da Pátria. Claro que como Juiz o dr. Moro merece todo o respeito assim como o dr. Hélio, pois ambos cumpriram muito bem suas tarefas profissionais. Só que na vida política o dr. Moro pecou pelo noviciado, por não ter jogo de cintura para tourear na grande arena política e saiu tosquiado. Ou não saiu? Eis a questão. Ademais a crítica quando construtiva serve para temperar o ímpeto e propiciar que o criticado repense e de a volta por cima. Saber que errou e reconhecer é ato de nobreza próprio dos grandes homens. O resto é querer tapar o sol com uma peneira ...

“Ninguém entra em uma equipe governamental para ficar isolado e distante dos demais pares e do governante que lhe convidou. Permanecer ou não é uma opção.  Chutar o balde sem antes explicar ao Chefe as razões da saída, por mais motivação correta que tenha, é ato deselegante e publicamente censurável.”

Edson Vidal Pinto

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.