Serei um alvo perfeito
Embora cumprindo o ditatorial isolamento social por estar na chamada zona de risco do Covid -19, confesso que já estou sentindo pânico só de pensar quando alcançar minha alforria. Tudo bem eu concordo que o Poder Judiciário representado pelo STF está causando insegurança jurídica no país e que seus integrantes não estão alinhados com a tradição e cultura daquela Excelsa Corte -, assim, pois quando ouço críticas fico mudo e calado, mas quando abre uma brecha na conversa até ajudo um pouco com comentários mais abusados porque também sou filho de Deus.
Acho que os leitores sabem que sou desembargador aposentado e como magistrado ostento com muito orgulho este titulo, assim, quando perguntado por alguém para declinar minha profissão, pois não sou advogado e nem inscrito na OAB, respondo que sou magistrado ou desembargador, pois aposentado não é profissão. Porém confesso que estou receoso com o que possa ocorrer comigo futuramente, pois temo quando puder sair na rua ser achincalhado como certos políticos que habitam os palácios de Brasília. Explico.
É que ouvi ontem ao meio dia na Rádio BandNews o comentário que mais parecia um libelo-crime acusatório de autoria do matraqueiro jornalista de nome Eduardo Neguer (ou coisa parecida) que me deixou profudamente agastado e ao mesmo tempo feliz. Um paradoxo, não? Sim, é verdade -, pois ao tempo em que fiquei roxo de raiva também fiquei eufórico. Calma porque vou explicar por parte. Primeiro porquê eu fiquei fulo da vida. Não há de ver que o dito cujo indivíduo falou para os ouvintes de todo o Brasil que um desembargador ganha cem e até duzentos mil reais por mês, o que equivaleria ter uma renda anual de um e até dois milhões de reais? E não satisfeito com tão deslavada mentira concluiu que “tem nojo disso!”
E por quê eu ouvi? Porque respeito as opiniões contrárias quando são bem sopesadas e por acreditar que na democracia as pessoas tem o direito de se expressar livremente, por isto não me furto jamais em dar ouvidos a quem quer que seja, até mesmo quando uma criança quer falar. Contudo não tolero mentira e nem comentário leviano de um profissional da imprensa que deveria primar pela ética e zelar pelo prestígio de sua própria classe. Como? Aferindo antes de mais nada se o que vai comentar é a verdade e está documentada.
Desafio publicamente esse indivíduo provar o que disse no microfone. E mais : não satisfeito ele ainda usando de tom sarcástico aduziu que os “pobres” juízes não se satisfazem por ganharem no papel “apenas” a bagatela de trinta e seis mil reais por mês! Ora, nenhum magistrado ganha líquido tal importância levando em conta os descontos obrigatórios do Imposto de Renda retido na fonte, a Previdência Social e os encargos referentes aos Planos de Saúde que são ônus necessários às pessoas previdentes.
Assim, se vinte e três mil reais (líquido) é um salário de marajá vale lembrar que outras carreiras estão no mesmo patamar e que dito valor equivale ao salário de um executivo quando dá os primeiros passos dentro de uma empresa privada de porte medio. Mas para ganhar um numerário como o referido, no Ofício Público, o desembargador necessita de vinte ou mais anos de atividade para poder alcançar ( se tiver sorte) o topo da carreira. E os cem ou duzentos mil reais por mês? Quem contou para o referido jornalista:um dos Cavaleiros do Apocalipse?
Ah, o meu medo? É quando acabar a quarentena e eu levar uma cusparada na cara de um apaixonado ouvinte do Eduardo Neguer ( ou coisa parecida) quando estiver andando pela rua e que também tenha “nojo” de Juiz ou desembargador. Esta é a imagem da imprensa brasileira perniciosa, tendenciosa, mentirosa e obtusa porque seus jornalistas são cegos pela ideologia, inconsequentes e que se prevalecem do direito de “opinião” para falar ou escrever bobagens.
E quer saber por quê fiquei feliz da vida? Porque se ele disse que ganho cem ou duzentos mil reais por mês vou querer saber porquê nunca recebi e nem recebo tais valores. Será que alguém desviou meu rico dinheirinho para construir algum estádio de futebol? Quem sabe o metrô de Curitiba? Esclareço a bem da verdade que se em ocasiões pretéritas alguns valores excederam o teto legal foram a título de ressarcimento pagos indistintamente à todos os funcionários públicos ( In gênero) em decorrência de quantias não pagas no salário em razão de Planos Econômicos e pelas perdas da substituição da moeda do país.
Nada ilegal, nem criminoso e muito menos nos valores referidos pelo comentarista. E por se tratar de ressarcimento e não de aumento de salário eventual reposição do queres devido devido ao servidor teve o devido amparo legal e não pode ser bisonhamente apontado como regalia de príncipes. E tudo autorizado sob o crivo do esdrúxulo Conselho Nacional de Justiça. Dito isto: cheguei a conclusão de quem tem “nojo” de tudo que dizem e escrevem no rádio, televisão e jornal : sou eu ...
“A Imprensa brasileira perdeu o seu rumo e prestígio quando jornalistas sem eira e nem beira, vesgos pela ideologia e pressionados pelos seus patrões, criam ilações e sofismam os fatos. E por ser o direito de informar sagrado num Estado Democrático de Direito, o jornalista que faltar com a verdade deveria ser punido pela sua propria Classe. Sed Lex Dura Lex”.
Edson Vidal Pinto