Que Pandemia Que nada!
Minha paciência chegou no limite e preciso sair da clausura custe o que custar. Necessito passear, rever familiares, amigos, frequentar restaurantes, lanchonetes, entrar no shopping, trabalhar, andar no Parque Barigui, apanhar sol, ver crianças brincando e gritar para o mundo ouvir: viva a liberdade! E como estou disposto a transgredir regras e desobedecer as autoridades médicas a primeira coisa que vou fazer será arremessar pela janela dezenas de máscaras que tenho, do décimo quinto andar do prédio onde moro. Que vírus que nada -, não tenho medo e matarei o primeiro que se aproximar com minhas próprias unhas.
Basta de solidão, ansiedade e de só ouvir a Rádio BandNews ou assistir o catastrófico Jornal Nacional da Globo; doravante só vou assistir o Ratinho, as pregações do apóstolo Waldomiro e o Chaves. Vida nova! Viva a vida! A segunda coisa que vou fazer será andar de elevador no edifício, sem parar, de baixo para cima e de cima para baixo, revendo meus vizinhos que há meses não vejo. E só vou entrar quando o elevador estiver lotado. Pois com certeza o vírus morrera espremido. Vou pedir para a síndica uma assembleia geral extraordinária do condomínio para um abraço coletivo entre todos os moradores, para comemorarmos o fim do pânico.
A terceira providência será improvisar um púlpito na Praça da Ucrânia onde vou fazer meu primeiro pronunciamento político em favor do meu candidato a vereador : Gerson Guelmann, meu amigo e irmão, para que os eleitores conscientes escolham o melhor nome para a Câmara Municipal. Pois terá eleição sim, nada de prorrogar mandatos. A quarta providência será cutucar com vara curta o governador para ver se ele acorda e começa a governar. Nunca vi um governo tão parado e exaurido. Tanto é verdade que a Segurança Pública está um caos e as cidades estão à mercê dos bandidos. A quinta coisa que irei fazer será vestir minha roupa de Super-Homem e dar um pulinho em Brasília, a fim de resolver certas questões dentro do STF.
Tudo será resolvido sem escândalos e nem gritarias dentro do mais absoluto segredo de justiça. A sexta coisa que irei fazer será conversar com o Doria e mandar ele para o lugar que merece. A sexta providencia será ouvir o Witzel tocar trombone e mandar que ele abra o comércio e feche os pontos de drogas. A sétima providência será promover uma convenção da Interpol dentro das dependências do Foro de São Paulo. A oitava será realizar uma missa da TFP na Fundação Lula.
A nona medida será implorar aos índios americanos que venham ao Brasil realizar a dança da chuva. E a décima coisa que farei será implodir a OMS e seus dirigentes políticos. Ah, mas tudo isso vai ter que esperar um pouco, pois acordei com o corpo dolorido, a garganta ardendo e não parece ser bom sinal. Minha coragem acabou indo para o calcanhar. Acho melhor por enquanto ligar a TV Globo e assistir toda a sua programação sem mudar o canal, pois afinal desgraça pouca é bobagem ...
“As vezes na clausura dá vontade de sair do sério e realizar proezas nunca imaginadas. É por causa do pânico. Mas tudo não passa de imaginação quando um vírus mortal ronda a nossa porta. É sempre assim: a coragem cessa quando o medo aperta!”
Edson Vidal Pinto