Edson Vidal

Ufa, que pesadelo!


Sabe o que é acordar de madrugada com o coração na boca? Pijama molhado, peito ofegante e com medo de dormir de novo? Culpa do Covid-19 com certeza, pois não é fácil ficar em isolamento social lendo a “Isto É”, “Veja”, “A Folha de São Paulo”; assistindo TV na “Rede Globo”, “CNN Brasil”, “Band”; ouvindo rádio ligado na “BandNews” e quando chega no final do dia tudo isto se mistura bem na hora do sono profundo para dar azo a um pesadelo medonho.

Também é tanta porcaria junta e jornalismo de baixo nível que ninguém fica imune. Pelo menos aqueles que se preocupam com o Brasil.  Benza Deus, ninguém merece viver segundos que parece uma eternidade no Inferno de Dante. Foi esta a sensação que tive quando “sonhei” que por maioria de votos da Assembleia de condôminos do prédio em que moro, fui eleito síndico.

Eu concorri porque o síndico anterior tinha ficado rico por fazer cambalacho com fornecedores e por ter manipulado a prestação de contas em conluio com o Conselho Fiscal. Foi uma quadrilha reunida que tomou os destinos do edifício. O ex-síndico tão cara de pau que é jura que ficou rico fazendo palestras em outros condomínios. Tudo mentira pois o grupo dominante usufruiu de taxas indevidamente cobradas dos proprietários. Mas a minha eleição gerou desconforto “dos contrários” e insatisfação da imprensa do próprio prédio que publica um jornaleco intitulado “O Globo”, que é mimeografado todos os dias   para noticiar fofocas, notas sociais e esportivas do condomínio. Minha primeira decisão foi cortar o patrocínio do jornal e acabar com a folia do dinheiro arrecadado. Por quê! O grupo do jornal passou a me criticar da primeira há última página. 

Os moradores “do contra” fazem provocações, riscando nas paredes dos corredores frases ofensivas e protestam todos os dias na porta de entrada do prédio. Minha vida pacata virou um caos. O Globo encetou uma campanha difamatória contra toda minha família. A reunião sigilosa que fiz com o Conselho Fiscal foi tornada pública por ordem do STF. Nada do que eu faço pelo prédio e seus moradores merece aplausos. Fui obrigado a contratar seguranças para evitar o pior; teve até gente mal-encarada de outros prédios que vieram fazer badernas na piscina, salão de festas, salão de ginástica e cancha de futebol. Fui obrigado a chamar a polícia, mas muitos de meus apoiadores queriam uma intervenção militar. Evitei para não ser chamado de ditador ou fascista. 

E a pandemia? Ah, isto também foi uma preocupação e deu motivos para mais ódio. Falei para alguns amigos do prédio que o remédio chamado “Óleo de Fígado de Bacalhau” seria um tiro mortal no vírus; o vizinho do décimo andar que é médico oftalmologista, um dos que votou contra mim, disse que eu era um louco, ordinário que queria me manter no poder às custas de uma pilha de cadáveres de condôminos que me dessem ouvidos. Um morador do primeiro andar, professor de direito da UFPR. notório comunista, está prometendo trazer pessoas de fora do condomínio para uma guerra sem tréguas contra o meu grupo, prometendo que até o Maduro estará presente. 

Para não enfartar resolvi deliberadamente adentrar na varanda do meu apartamento e olhando ora para cima ora para baixo do décimo quinto andar, comecei despejando um bilhão de palavrões, dos mais ou menos conhecidos do grande público, para desopilar meu fígado. A reação do “Globo” foi nojenta pois sem explicar o porquê de meu desabafo distorceu os fatos para exigir meu impeachment. A alegação feita é que sou muito desbocado. Até meu aparelho celular o STF quer apreender. Foi daí que acordei. Que pesadelo! Pô, preciso viajar com urgência. Estou ficando maluco. E quem não está, não é nesmo ??!!

“Viver num mundo de pandemia e ao mesmo tempo em um edifício dividido, onde os moradores não se entendem, é dose para mamute. Ainda bem que nosso país é unido, pacato e todos os habitantes torcem por dias melhores. Somos um exemplo de democracia, ordem e respeito.”

Edson Vidal Pinto

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