Edson Vidal

Sorte na Vida

A situação nacional está tão tensa que é até chato escrever sobre assunto político e pior é falar da Covid-19. Sobre esta pandemia sempre tem alguém que adiciona no WhatsApp uma mesma mensagem: “...Tenho uma prima, médica em São Paulo, que é infectologista e está temerosa pelo aumento de infectados no hospital da Beneficência Portuguesa, e me disse pelo telefone que os próximos quinze dias o vírus chegará no pico ...”. O terrorismo é sempre o mesmo, só muda o parentesco com o esculápio. Ora é um tio, irmão, tia, sobrinha e assim por diante. 

Daí resolvi até segunda-feira escrever apenas amenidades. Sorte na vida. Tem um dito popular que diz existir três maneiras do ser humano enriquecer: nascer rico, casar com nubente rico ou ganhar na loteria. Ficar rico pelo trabalho é bem mais cansativo, mas não impossível. E no país que vivemos enriquecer se atolando no mar de lama da corrupção para muitos é uma glória. E todos temos consciência que hoje em dia e daqui em diante tudo na vida será muito difícil, pois a situação econômica é caótica como reflexo da crise política e epidemiológica. A preocupação é pensar o que será dos nossos netos num futuro não tão distante, onde não basta apenas ter um diploma de curso superior, mas sim como superar por mérito a concorrência profissional. 

Os gargalos dos empregos estão diminuindo cada vez mais -, a tecnologia através da robotização suprime o serviço humano, os computadores rivalizam com os conhecimentos dos especialistas. As áreas de atividades estão aos poucos diminuindo espaços e dispensando a mão de obra humana. Levar uma vida digna e com rigor econômico será quase uma vitória e pensar em ficar rico será uma meta para bem poucos. Embora existam oportunidades inesperadas na vida que tornam o homem ou a mulher rico, independente do dito popular anteriormente citado ou do esforço pelo trabalho. É quando o inesperado acontece. 

E para ilustrar vou me valer de um episódio escrito por Robério Santos no seu livro “Zé Baiano”, cuja obra pode ser adquirida pelo telefone ((79) 99969-5819) cujo personagem foi um cangaceiro mais perigo do bando de Lampião. Foi na vida do cangaço que Zé Baiano através de roubos, extorsões, empréstimo de dinheiro para terceiros e saques de bens conseguiu amealhar grande riqueza. 

E como não haviam agências bancárias nos sertões nordestinos os bandoleiros carregavam o dinheiro em bornal de couro, escondendo os mesmos muitas vezes em algum lugar da caatinga.  Foi no ano de 1.936, algumas semanas antes do Zé ter sido traído e morto, ele chegou com três de seu bando no povoado de Caraíbas - Sergipe, e na casa de um senhor que o atendeu ele disse: “-Vim aqui ter um dedo de prosa com o sinhô e seus filhos, quero um deles para mim”.

E foi assim que o jovem Balbino foi “empregado”, montou num cavalo e seguiu os cangaceiros por pequenas trilhas e quando pararam para beber água, Zé Baiano retira debaixo da sela de seu cavalo uma bolsa, se aproxima do aprendiz de cangaceiro e diz:

“-Olha, tu segura esta bolsa, tem nosso dinheiro e não larga ela por nada. Como tu tá de ropa  de civil, tu cavalga um pouco afastado de nóis, se a volante chegar junto tu corre e nóis se encontra no Alagadiço, tá entendendo? Eles não vão atirar em tu, mais se pega nóis tá tudo perdido.”

E quando prosseguem a caminhada o grupo é surpreendido pela polícia (volante) e começa um tiroteio. Balbino, assustado, se afasta do local e volta para a casa do pai. A bolsa tinha uma pequena fortuna em dinheiro. Depois de tentar por várias vezes descobrir o lugar que seu “patrão” tinha falado, sem êxito, retornou para o sítio da família e quando soube da morte de Zé Baiano, comprou com o dinheiro do cangaço uma fazenda num lugar desconhecido. Casou e foi morar com a mulher na sua nova propriedade. A sorte lhe sorriu para ficar rico. Ninguém nunca lhe incomodou para reivindicar o dinheiro. Esta crônica para uma sexta-feira está boa, não acha? Sinceramente, espero que tenha sido uma boa leitura ...

“Claro que o dinheiro deixa qualquer bobo feliz , imaginar que não só sendo débil mental. Só que o dinheiro não é tudo quando falta ao abastado o respeito, a dignidade e o patrimônio moral. Estes são bens abstratos de valor incalculável!”

Edson Vidal Pinto

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