Edson Vidal

Títulos Acadêmicos

Sou de uma geração de autodidatas em que as pessoas aprendiam seus ofícios através da prática e experiência do dia a dia. No âmbito dos denominados Cursos Superiores apenas médicos e advogados eram distinguidos com o título de “doutor”, uso e costume respeitoso de uma tradição. Na vida profissional o que valia mesmo era lutar pela sobrevivência e vivenciar a profissão errando e acertando até poder entender as “manhas” e o “pulo do gato” para se sair bem nas tarefas. Sou de uma geração de autodidatas em que as pessoas aprendiam seus ofícios através da prática e experiência do dia a dia. No âmbito dos denominados Cursos Superiores apenas médicos e advogados eram distinguidos com o título de “doutor”, uso e costume respeitoso de uma tradição. Na vida profissional o que valia mesmo era lutar pela sobrevivência e vivenciar a profissão errando e acertando até poder entender as “manhas” e o “pulo do gato” para se sair bem nas tarefas. 

Em uma época em que as comunicações eram insipientes àqueles que militavam no interior dos estados eram na maioria das vezes neófitos em busca de aprendizado. Tantos médicos recém formados foram militar nas cidades menores fazendo da prática diária as suas bagagens de conhecimentos para poder sobreviver profissionalmente. E o mesmo acontecia com os advogados e as demais profissões. E errar era sempre um passo para poder aprender, pois eram raros os simpósios, congressos e cursos de atualizações. E quando era anunciado um destes eventos os lugares de suas realizações eram distantes e o custo com inscrição e hospedagem considerados muito caro. Os denominados mestrados e doutorados só existiam em países da Europa. Época em que as Universidades brasileiras tinham no seu Corpo Docente apenas professores militantes de cada carreira. E o aprendizado era de primeira.

De repente nas nossas Universidades começaram os cursos de pós-graduação, uma espécie de reforço científico de uma só matéria para, logo depois, começarem a surgir em São Paulo e Rio de Janeiro os primeiros cursos de Mestrado e Doutorado, títulos acadêmicos para àqueles que desejavam dar aulas no Magistério Superior. Cursos muito caro que só os mais privilegiados economicamente se atreviam matricular. E com a modernidade referidos cursos foram cooptados pelas demais Universidades e acrescidos com outro denominado de Curso de Pós-doutorado, tudo para diferenciar na estrutura acadêmica o ganho de cada professor de acordo com sua titulação. 

Nada mais. Na vida prática referidos títulos não encontram igual realce porque valor mesmo continua sendo a bagagem de cada profissional auferida na atividade prática. Daí porquê muitos advogados de notória nomeada nunca se interessaram em escrever um pequeno livro doutrinário e muito menos peças esparsas de seus notória conhecimentos. Deixaram seus rastros de inteligência marcados nas páginas dos processos em que atuaram. O mesmo acontece com renomados médicos porque não quiseram se dedicar às lides acadêmicas. Portanto títulos acadêmicos fazem parte do currículo dos profissionais que se dedicam a ensinar nas diversas faculdades, não se prestando os mesmos para qualificar ninguém nas atividades públicas ou privadas. 

Porque tem grandes teóricos ostentando títulos e que na prática não passam de embusteiros. Sempre a melhor maneira de aferir o brilho de cada profissional, esteja no ramo em que estiver, é dando-lhe o bastão nas mãos. Daí sim dá para avaliar o peso criativo e profissional de cada detentor do poder. E por quê todo este preâmbulo? Porque parece que hoje em dia o cidadão para ser Ministro de Estado ou para ocupar cargo público relevante deve ostentar no seu currículo títulos acadêmicos, sem o qual não estará qualificado para o exercício funcional. Pelo menos assim está entendendo o MP que impugnou a posse na FUNART de um ex-funcionário do filho do Presidente, por não ostentar o mesmo nenhum título de especialização na área artística.  E daí? Isto não lhe tira o direito de ocupar o cargo. 

Quantos ministros na história da República desempenharam com honradez e competência tão relevante cargo e nunca tiveram título acadêmico algum. E hoje, quantos deles ostentam títulos pomposos e são de uma mediocridade ímpar. Se até Presidente da República semi-analfabeto nós tivemos, sem nenhuma impugnação, por quê o MP quer ser mais realista do que o Rei? É muita falta de bom senso, para não dizer perseguição ideológica ...

“O aprendizado do dia dia para os profissionais de cada área da atividade humana, não pode nunca ser olvidado como qualificação de competência. Títulos acadêmicos se prestam apenas àqueles que querem fazer do Magistério Superior seus próprios apostolados. Na vida pública e privada prevalecerá sempre a experiência profissional mais valiosa. Nada mais!”

Edson Vidal Pinto

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