Amargando o ostracismo
Quem viveu o circo e tem o cheiro da serragem do picadeiro nas narinas, o sangue de artista nas veias e sentiu de perto o aplauso do público depois da apresentação, com certeza não amarga a tristeza quando as luzes e holofotes se apagam no final de cada sessão porque sabe que o espetáculo continua. Porém quando as lonas ficam rasgadas, as luzes são menos intensas e as roupas dos artistas perdem o colorido, o circense passa a agonizar como o seu circo.
É então hora de lembrar dos grandes e memoráveis espetáculos que arrebatavam plateias e faziam as crianças gargalhar naquele mundo de fantasias. E quando a última luz do holofote apaga para não mais acender o artista cai no mundo real para se tornar mais um indivíduo entre tantos outros. É a sina de quase todos os artistas quando tempo passa e deixa apenas lembranças. Na sua magistral obra “luzes da Ribalta” o inesquecível Charles Chaplin, “O Carlitos”, retratou com magia o crepúsculo dos atores.
Mal comparando todos aqueles que por um minuto, uma hora, alguns meses e até anos conseguiram alcançar o sucesso e o reconhecimento público por ter marcado com atitude altaneira, capacidade inventiva, e se destacado no contexto de sua cidade, seu estado, seu país e o mundo como o melhor exemplo a ser seguido, sempre espera usufruir dos holofotes, aplausos e suspiros. É o prêmio da fama que pode acompanhar a pessoa para sempre, mas que por equívoco ou decisão precipitada pode levar o protagonista ao ostracismo.
Cena comum na vida pública. Um Presidente da República no exercício do cargo merece todos os encômios e é festejado onde estiver; a imprensa o procura incessantemente, sua fotografia e imagem aparece diariamente nos jornais, revistas e na televisão. Terminado o mandato se geriu bem o país é lembrado por algum tempo, mas se apenas ocupou o espaço do governo é logo esquecido. Na vida pública quem pensar que o tratamento dispensado pelo cargo que o indivíduo ocupa é perene, sofrerá a maior decepção na vida quando tiver que deixar o lugar para outro, ou quando se aposentar.
As homenagens são prestadas àquele que toma posse no cargo e não para quem está sendo substituído. Esta é a verdade incontestável. São raras as exceções. E por quê estou dando pinceladas tão fortes nesta minha crônica? Porque fico pensado no que o Sérgio Moro possa estar passando depois de rifar uma belíssima carreira de Juiz Federal, ter sido festejado mundialmente em razão de um processo que lhe caiu no colo, de ter ocupado o cargo de Ministro de Estado da Justiça com a promessa de ter assento vitalício no STF, e de repente ter dado um chute na sorte para cair no lugar comum como simples cidadão.
As badalações acontecidas nas suas apresentações públicas quando ia no teatro e nos shows, os aplausos que ecoavam quando estava sentado na poltrona de um avião de carreira e o frisson que sua presença causava onde estivesse, não repercutem mais. Com um futuro incerto está jornalista e professor.
Faltou ter ao seu lado um amigo maduro e verdadeiro que pudesse ter lhe aconselhado a não abrir mãos da judicatura e continuar exercendo a profissão que abraçou para, daqui um pouco mais de três meses, ser nomeado Ministro da Suprema Corte. Que pena, hein? As vezes quem tudo quer, tudo perde ...
“Deixar o certo pelo duvidoso é uma decisão de vida que o indivíduo deve maturar, para não se arrepender. Cargo em Comissão na função pública é sempre temerário, porque a dinâmica no mundo político é uma constante. E todo sucesso é efêmero!”
Edson Vidal Pinto