Edson Vidal

São Benedito, O Negro

Não consigo esquece da Lapa porque minha mãe, tios e avós maternos nasceram e se criaram naquela tradicional e histórica cidade paranaense. E também porque nela morei por três vezes : quando criança em uma das casas de funcionários localizadas na entrada do Sanatório São Sebastião, onde meu pai era tesoureiro; em 1.968 como Promotor Substituto morei em um dos quartos alugados na residência do saudoso casal d. Leocádia e  Sr. Odorico Prestes; e 1.972/3 então casado e Promotor de Justiça da Comarca, morei com minha esposa e meu filho primogênito Luiz Gustavo, em uma pequena casa alugada na rua Cel. 

Eduardo Corrêa. É por isto que tenho um carinho especial e um apreço profundo pela cidade, pois nela tenho gratas lembranças de minha infância, dos meus primeiros anos de vida como homem casado e dos amigos que fiz e que me são caros. Cito apenas alguns que vivem em minha memória: Omar Kalled, David Wiedmer Neto, Francisco Brito de Lacerda, Alexandre Weinhardt , Luiz Lacerda, César, Sérgio e Pedrito Leoni. 

Desde o painel dos Tropeiros localizado bem na entrada da Lapa uma obra do inesquecível Poty, mas atravessando a cidade até chegar na Pedra do Monge, os visitantes respiram o ar puro da região e se extasiam com os casarios coloniais, o Phanteon dos Heróis, museus, o Teatro São João e duas únicas igrejas católicas: a Matriz de Santo Antônio e a do Santuário de São Benedito. Embora Santo Antônio seja o padroeiro da cidade é a Igreja de São Benedito bem maior e a mais festejada pelos fiéis. Não tem explicação lógica.


São Benedito era italiano nascido na Cecília, seus pais eram oriundos da Etiópia, família da raça negra, foram todos libertados quando a escravatura foi abolida na Itália. Benedito aos 17 anos ingressou na Ordem Franciscana, embora com pouca cultura, foi um homem despojado de vaidades e na maior parte de sua vida prestou serviços na cozinha dos conventos. E quando morreu e foi canonizado Santo e escolhido como Patrono dos Padeiros. 

Ele é muito querido e festejado na Itália como também na Lapa por ser o símbolo maiúsculo da humildade e bondade. Toda a data de 05 de outubro a Lapa realiza a maior festa em homenagem a São Benedito, com barracas de artesanatos, comidas, guloseimas, missas o dia inteiro e o ponto alto é a procissão da Imagem do Santo pelas ruas da Lapa. É da tradição que atrás do andor tenha dezenas de crianças e adultos vestidos com uma opa, sobre os ombros, para pagar as promessas feitas e as graças alcançadas. 

Minha saudosa mãe sempre fazia promessas e era eu desde pequeno até a minha adolescência que participava vestindo a opa, nos dias da procissão. E não tinha como recusar, pois minha mãe queria que fosse assim e ponto final. Lembro que a última vez em que participei eu tinha catorze anos de idade. E hoje confesso que tenho saudades pois fez parte de minha meninice sob a proteção de meus país, das suas companhias que me fazem falta e da minha amada irmã, da cidade pequenina que faz parte de minha biografia. Mas tudo passou, só não passou minha devoção pelo Santinho negro como carvão, que me ajuda quando mais preciso e me faz um bem danado ...

“A cidade da Lapa é um berço de gente boa, que tem palavra, fibra e amor a Pátria. Tem um clima especial, muita História, casarios coloniais e comida típica. Também tem o Santuário de São Benedito, um lugar aprazível para falar com Deus.”

Edson Vidal Pinto

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.