Até Chuva Caiu
Depois de dias tensos com o Covid-19 rondando ruas, praças e parques da cidade, acordei depois de uma boa noite de sono, com intenção de começar bem a semana. E comecei quando olhei para o chão do quarto e deparei com um exemplar impresso, com vários cadernos, do jornal “Gazeta do Povo” do dr. Francisco da Cunha Pereira, naquele formato tradicional e diagramação caprichada. Primeiro olhei a data da edição para me certificar se era verdade: e era. Ele estava datado do dia de hoje.
Sem procurar saber quem tinha colocado o jornal no chão do meu quarto, peguei o mesmo, separei o primeiro caderno e passei os olhos nas manchetes: “Acabou a Pandemia”; “O Governador concede aumento para os funcionários públicos”; “O Prefeito quer acabar com os mosquitos no Parque Barigui”; “Lula foi recolhido no presídio de Bangú II”; “A Globo foi vendida para o Grupo Positivo”; “O STF perdeu Gilmar para a Universidade de Lisboa”; “Maria Louca vai se afastar da política juntamente com o filho e o sobrinho”; “ O atual líder do governo na Câmara Federal será o próximo presidente da ONU”; Athletico Contrata Messi e o Coxa assina com Petraglia”; “Juiz decreta a falência do PT”; “FHC fugiu para o Taiti”; e “Obama deixou a mulher para fugir com a Amante”.
Emocionado e ainda não acreditando que era a “Gazeta” de antigamente fui direto na página política e lá estava uma caricatura assinada pelo Paixão. E para não ter mais dúvidas fui na parte social e encontrei a coluna do Dino de Almeida, promovendo a tradicional festa da “Garota Caiobá”. Daí não tive mais receio algum que eu tinha mesmo nas minhas mãos um exemplar verdadeiro do nosso mais querido jornal. Já refeito da emoção fui ler no anverso da primeira página as “Entrelinhas”, depois fui o final do segundo caderno ler as notícias internacionais.
Novamente folhei mais algumas páginas e fui ler a Juryl , depois fiz as palavras cruzadas e terminei lendo o noticiário esportivo. No caderno Imobiliário e de vende-se apenas lancei os olhos para saber das novidades. Só notícias alvissareiras. E o melhor: não tinha o chato do jornalista Celso Nascimento para criticar meio mundo sem apurar a verdade dos fatos. Ela era a “Gazeta” do saudoso dr. Francisco sempre com campanhas em prol do Paraná e sem nenhum viés de ideologia obtusa. Daí me ocorreu telefonar para meus amigos a fim de contar que eu acabara de ler um exemplar inteiro do nosso mais tradicional jornal, tal a minha euforia.
É claro que havia razão para isto pois não temos mais jornais de primeira em Curitiba, logo em nossa cidade que é universitária por excelência e modelo para o país, sem contar com uma imprensa que valha a pena ler. Sem um bom jornal parece que a Cultura míngua -, considerando que nem o governador e nem o alcaide prestigiam a área cultural do Paraná. Tanto que no estado a vaga de superintendente da Cultura está acéfala. Foi quando tentei pegar o telefone do criado mudo e caí da cama. Abri os olhos e o quarto estava escuro. De repente uma luz acendeu, era minha mulher que assustada quis saber o que tinha acontecido.
- Não foi nada, meu bem.-disse sem jeito. - Tive um pesadelo e caí da cama!
- Meus Deus, que susto. Você está bem?
- Estou, mas muito chateado ...
- Por quê?
- Esqueci de ler na página policial como foi que o STF decidiu mandar o Lula de volta para o xadrez ...
“Vamos e venhamos que dá vontade de ler diariamente um bom jornal em Curitiba, dá. Vivemos um jejum cultural porque estão tolhendo os bons jornalistas paranaenses para analisar e comentar com lisura os fatos do cotidiano. Falta empreendedorismo e empresário de visão, pois anunciantes, leitores e assinantes é que não faltam!”
Edson Vidal Pinto