A Farra dos governadores
Lembro que o exercício da governadoria tinha uma liturgia incomparável e todos os ocupantes deste honroso cargo se esforçavam para serem estadistas e merecedores do respeito de sua gente. Pensar em entrar no Palácio Iguaçu tinha o simbolismo de se estar adentrando num lugar reservado apenas às autoridades -, ninguém se atrevia estar indevidamente trajado e nem falar alto ou dar risada acintosa.
O Governador e seus Secretários preservavam suas autoridades e eram notados onde estivessem, o povo sabia seus nomes e acompanhava pelas notícias diárias as suas atuações. Com o passar do tempo e ocorrendo a frouxidão dos usos e costumes que cederam lugar a uma modernidade sem freio, a endumentária formal foi aos poucos banida e o princípio de autoridade olvidado.
Começou com o Requião com sua calça jeans, camisa azul esporte e às vezes com um paletó de couro acaipirado que lhe dava o ar de um boiadeiro do asfalto, usando e abusando deste mesmo traje até nas cerimônias oficiais dos três poderes, numa demonstração de deboche as regras sociais. Os Secretários passaram então a usar roupas esportes ou quando de terno aboliram a gravata,- a “escolinha” do governo televisionada todas as segundas-feiras diretamente do auditório do Museu Niemayer, foi marca registrada de propaganda enganosa e eleitoreira. Valia a pena assistir de vez em quando para desopilar o fígado.
E sempre com ar sarcástico e truculento o dito político entrava em êxtase quando dava “pito” em seus subalternos por chegarem atrasados ou quando diziam alguma coisa que ele não queria ouvir. Depois dele só o Ratinho Filho usa roupas improprias para trabalhar no Palácio. E como é um notório ausente na repartição, dele pouco se fala e seu governo existe só na televisão. Porém de uns tempos para cá muitos governadores não só deixaram de lado o uso da roupa formal, como deixaram também a arte de administrar bem ou mal seus estados, e passaram a fazer farra com o dinheiro público.
Mas não com tanto exagero como vem ocorrendo no Estado do Rio de Janeiro. Lá os governadores de muitos anos para cá simplesmente perderam o pudor e enriqueceram a olhos vistos. Só a Receita Federal nunca percebeu. Um estado que teve o Brizola com sua verborragia gauchesca iludido os cariocas ao lotear os morros com perigosos traficantes e desde então seus sucessores foram verdadeiros piratas do Erário Público. E até um ex-Juiz Federal que chegou ontem por ter sido eleito governador, arrotando honestidade e prometendo consertar a Administração Pública, acabou sendo afastado do cargo por praticar atos de improbidade.
E digo mais: se o Ministério Público e os Tribunais de Contas dos estados fiscalizassem com rigor as aplicações das verbas públicas outros governadores também acabariam perdendo seus cargos. Por quê? Porque no governo petista a corda correu frouxa pois ninguém acreditava que um dia pudesse iniciar no país uma Operação como a Lava Jato, que mostrou parte das mazelas que corrói as riquezas de um país rico. E quando um ex-presidente foi condenado e outro perdeu o cargo foram dois fatos emblemáticos porque inaugurou o início do fim da impunidade.
Não fosse a imaturidade dos promotores federais e do ex-juiz federal que presidiu processos e homologou delações premiadas aqui em Curitiba, muita coisa teria acontecido para acabar com a corrupção no país. Mas não podemos perder as esperanças porque existem sim, bons Juízes e Promotores de Justiça para servir o Brasil ...
“Os governadores parece que esqueceram que foram eleitos para administrar e não para dilapidar os seus estados. Nada comparável com o estado do Rio de Janeiro onde seus principais agentes públicos não sabem o significado da palavra honestidade.”
Edson Vidal Pinto