Mulheres Maravilhosas!
Vivendo ainda o risco da pandemia do Covid-19, manda a prudência para os que estão no risco do pior, permanecer em isolamento social. E ficar em casa sempre surge uma ponta de nostalgia quando lembramos da família, dos amigos, dos colegas de escola, de profissão e dos momentos que não voltam mais. Quando vejo os cabelos brancos de minha mulher eu sinto que na véspera de nossas Bodas de Ouro, que marca cinquenta anos de vida em comum desde quando casamos na Igreja de Santa Terezinha, que a neve em sua cabeça são marcas de um tempo em que juntos constituímos família e lutamos por um longo e árduo caminho para chegar onde chegamos.
Pois fazer carreira no Ofício Público nunca foi fácil para ninguém, principalmente em uma época que as cidades do interior eram pequenas, as comunicações precárias e as estradas de chão batido. Juízes e Promotores de Justiça por imposição das respectivas carreiras tinham que percorrer anos a fio pelas Comarcas do interior, que serviram de aprendizado nas trincheiras dos fóruns de construções improvisadas, gabinetes acanhados e sem um único auxiliar sequer para datilografar as peças dos processos. Foi no interior que a grande maioria destes profissionais passaram na juventude sem arrependimento e certos do cumprimento do dever.
É pena que o Tribunal não preserve a memória como tem feito há anos o Ministério Público, com entrevistas gravadas em vídeos com depoimentos de seus Juízes para contar suas experiências e ofertarem cada um a seu modo um retrato do passado para servir de contribuição para o futuro. E a comunidade jurídica sabe que o Poder Judiciário teve e tem figuras notáveis da Magistratura que poderiam colaborar com seus depoimentos para um acervo Institucional. O Museu da Justiça pode ter peças antigas dos mobiliários de alguns fóruns que hoje estão desativados, retratos e objetos de uma época, mas falta a complementação de uma coleção de áudio-visuais para enriquecê-la.
O atual Presidente do TJ pelo seu dinamismo e competência poderia também marcar sua gestão materializando com sua iniciativa a criação desse espaço documental. Fica aqui a sugestão. E as mulheres? As guerreiras que acompanhavam seus maridos pelas andanças de cidade em cidade, cuidando dos filhos e zelando pelo bem estar da família? Muitas deixaram também o viço de suas juventudes pelas cidades do interior, longe dos pais, aprendendo a ser dona do lar, economizando porque o salário do marido era insuficiente, aprendendo a dirigir veículos no barro, sem reclamar da vida e com disposição para enfrentar as agruras do cotidiano.
Mulheres maravilhosas de fibra, que vivenciaram os bons e maus momentos da carreira de seus maridos; algumas foram esquecidas no caminho por desencontros da vida; outras chegaram em momentos diferentes e deram a contribuição que poderiam dar; e muitas se despediram da vida para viver nas estrelas. E as Promotoras e Juízas daqueles tempos difíceis? Todas elas vocacionadas, abnegadas, eram bem poucas pois daria para contar nos dedos das mãos, viveram pelo idealismo num mundo machista por excelência, verdadeiras pioneiras que mereceriam um memorial com seus nomes gravados numa placa de bronze como justa homenagem.
É com a alma lavada que vimos o Colendo Órgão Especial do nosso Tribunal de Justiça, por unanimidade dos seus desembargadores, escolher o nome da saudosa Ministra Denise Arruda do Superior Tribunal de Justiça (STJ), uma das primeiras Juízas de nosso Estado para ser estampado em letras garrafais no prédio do Fórum de Curitiba. E com certeza a escolha do nome de uma Juíza mulher como madrinha do Centro Judiciário da Capital (no prédio da antiga Penitenciária Provisória do Ahú), não deixa de ser também uma homenagem à todas as demais magistradas que um dia (assim como nós e nossas esposas) percorreram estradas de pó e lama, dormiram em pensões de madeira, trabalharam em fóruns improvisados e honraram a Toga como símbolo do Justo.
E com certeza às mulheres que nos últimos trinta anos vieram abraçar a Magistratura, com igual destemor, garra e inteligência com igual intenção de servir a causa da Justiça. É jubiloso presenciar que as mulheres presentemente estão ocupando os lugares de destaque em todas as atividades profissionais, conquistando merecidos espaços e contribuindo para melhorar o mundo. E todas elas são dignas de respeito pelos seus próprios méritos em suas conquistas, inclusive àquelas que abdicaram suas carreiras e títulos para viver ao nosso lado pelas estradas esburacas que deixamos para trás...
“ Até fins dos anos setenta não era fácil para a esposa de um Promotor ou de um Juiz de Direito acompanhar o marido, deixando o bem estar da casa paterna, para enfrentar a vida difícil pelas Comarcas do interior do estado. De igual as primeiras Promotoras e Juízas que enfrentaram um mundo machista e preconceituoso. Mas todas elas venceram e hoje são respeitadas e admiradas. Com quem a mulher estiver sempre haverá também um homem de sucesso.”
Edson Vidal Pinto