Conteúdo para refletir
Às vezes me surpreendo com as pessoas que dão tanta importância para quem não merece e demonstram indiferença ou desagrado para aquele que só praticou o melhor para próximo. É uma reação tão despropositada que não tem explicação lógica. Tive um vizinho na cidade de Umuarama cujo nome era “seu” Julinho, um homem rico, dono de três fazendas de gado, trabalhador e muito honesto nos negócios, de vez em quando quando me via sentado na cadeira da área localizada na frente de minha casa, se aproxima para bater papo. E tinha uma conversa inteligente e muito agradável.
Certo dia quando ele chegou vi um ar de preocupação no seu rosto e perguntei:
- Tudo bem, “seu” Julinho ?
- Mais ou menos doutor...
- Posso ajudar de alguma forma? - insisti.
Ele esboçou em sorriso e prosseguiu:
- O senhor sabe, quando a gente ajuda os outros nem sempre somos reconhecidos ...
- Como, assim? Não entendi .
- Pois é, só que agora o arrependimento é tarde demais ...
- Se o senhor não se importar em contar eu gostaria de ouvir. - foi a sugestão que me veio no momento.
- Vou contar o que aconteceu. Uma de minhas fazendas está localizada no Mato Grosso e tem um vizinho amigo meu, que tem uma fazenda muito menor e que faz divisa com os fundos de minha propriedade. Ele fez alguns financiamentos com o banco mas teve atrapalho nos negócios e ficou financeiramente apertado. E para quitar dívidas assumidas me pediu para comprar suas terras.
Eu respondi que não tinha interesse, mas ele insistiu dizendo que por se tratar de área contígua eu poderia ampliar minha fazenda. E depois de tanta insistência e súplica para poder pagar suas dívidas, acabei fechando o negócio. O contrato de venda e comprar foi por preço justo e no valor do alqueire avaliado na região. Paguei a vista. Eu fiquei ouvindo em silêncio respeitoso e o “seu Julinho” prosseguiu.
- Feito o negócio eu disse ao meu amigo que ele não precisava se mudar da fazenda e que poderia ficar na casa da sede por mais seis meses, gratuitamente, porque só depois deste prazo eu faria a ocupação do terreno. E foi a pior coisa que fiz!
Fiquei curioso mas não falei nada.,E “seu” Julinho prosseguiu:
- Passados dois meses do negócio houve um aumento substancial do alqueire de terra e por consequência ganhei muito na compra realizada. Mas por circunstância aleatória; pois paguei pela fazenda o preço de mercado e não tive culpa pela valorização posterior ocorrida na região. E desde que isto ocorreu o meu vizinho passou a me tratar mal, sugerindo que eu deveria reembolsá-lo pela “perda” que teve. Mas não houve perda e eu recusei a proposta. O homem ficou meu inimigo e passou a dizer que eu me aproveitei da sua situação financeira para comprar a área por preço vil. É por isto que estou chateado ...
Fiquei sem saber o que dizer. E o “seu” Julinho arrematou:
- O senhor sabe como me senti? Quando aceitei as condições do negócio e efetuei a compra meu vizinho me considerava a melhor pessoa do mundo, um amigo verdadeiro, um salvador pelo bem que fizera a sua família. Eu era como a réstia de sol que entrava pela soleira da porta de entrada da casa, como uma luz que chegava para aquecer e dar tranquilidade à família. Porém, depois de três meses, eu era a luz do relâmpago que invadia pela soleira da porta para espargir frio e desamparo para todos. Eu era maligno.
E assim foi nossa conversa. E hoje passados quase quarenta anos eu lembro com saudades daquele meu vizinho e da lição de vida que ele na sua simplicidade me ensinou, sempre ponderando que o negócio ocorreu por insistências de seu vizinho. Deus meu, como o gênero humano muda rápido de opinião. Quando fazemos um bem para alguém nem sempre somos bem interpretados e se por circunstância o acaso nos deixar com algum tipo de vantagem, nos tornamos alvos de críticas e invejas. Por quê? Só uma palavra define este sentimento: ingratidão. Quem é beneficiário de uma boa ação e posteriormente desvaloriza sem motivo justo aquele que lhe beneficiou, perdeu o bom senso e se deixou arrastar pela inveja. Pois não existe justificativa para ação tão ilógica ...
“Num mundo de velocidade vertiginosa onde tudo acontece o ser humano necessita de muito bom senso para não perder a noção da realidade. E nem tem o direito de sucumbir pela sua própria pequenez. Comportamento injusto é reflexo da intolerância e da inveja.”
Edson Vidal Pinto