O Assobio
Tenho observado quando caminho pelas calçadas que as pessoas não sorriem mais umas para outras e procuram vencer as distâncias tão rapidamente para chegar depressa aos seus destinos. Na maioria das vezes estão alheias ao que passa ao seu redor , muitas com insegurança pela violência do cotidiano e outras com semblante fechado como se carregassem o peso do mundo nos ombros. As pessoas são as mesmas de sempre apenas o comportamento que mudou.
A música não tem mais ritmo melodioso e as letras não falam mais de amor e sim de lamúrias repletas de protestos, conclamando violência e no entremeio dos sons o esbravejar dos palavrões . Tem jovens que exalam inconformismo e anseiam por uma sociedade igualitária -, protestam porque vivem em liberdade e não conhecem a mordaça imposta às pessoas pelo autoritarismo do Estado. E o pior: não viveram o suficiente para discernir que sem lei e nem ordem a democracia sucumbe. São inocentes úteis nas mãos de velhas e perigosas raposas de uma política sem pátria. E neste cenário de dúvidas observo que nem mais o hábito de assobiar as pessoas têm para sonorizar seus estados de espírito.
Lembro que o som nem sempre mavioso do assobio despertava atenções, porque traduzia alegria, nostalgia e empatia. Ouvir alguma sonoridade vinda do sopro dos lábios de alguém, quando era possível identificar uma música, ajudava os ouvintes a saírem de seus próprios casulos com vontade de poder compartilhar e deixar para trás suas próprias diferenças. E não me refiro ao assobio artístico daqueles que tem inclusive músicas gravadas, mas sim, do assobiador de banheiro, das ruas, do dia a dia. Estes não existem mais ou perderam o ar de seus pulmões.
É muito raro ouvir alguém absorto assobiar como se estivesse no palco de seu próprio teatro, pois hoje em dia quase ninguém fala e prefere ficar atento no ruído de seu próprio celular. Aliás, uma grande maioria da população não tem sequer músicas que inspirem entoar algum som melodioso. As músicas tocadas são mal feitas e de profundo mal gosto. Duvido que os mais antigos não tenham saudades de assobiar, “ Perfídia”, Relógio”, “El dia que me quieras” e tantos outros boleros inesquecíveis. Nem as crianças assobiam mais.
Acho que o assobio caiu de moda ou está em extinção. Pudera os censores das palavras, gestos e raças estão todos de prontidão e ávidos em punir os infratores que brincarem com a cor, trejeitos e licenciosidade. E pensar que o assobio faz parte deste pacote de censuras.
Não sabe não? Claro que sabe, quer um exemplo? Experimente um dia tomar um cafezinho na “Boca Maldita” e fique conversando com os amigos da área as baboseiras de sempre. De repente passa na calçada uma mulher bonita, elegante e bem trajada e você não se policiando, faz um biquinho nos lábios e dele saem dois sons convidativos:
- Fiu, Fiu !!!
Em frações de segundos você está liquidado, pois vai perder sua esposa, família, o emprego, pois será preso em flagrante por atentado violento ao pudor ou importunação pública, será condenado e se não for amigo do Fachin ou do Gilmar irá cumprir pena em Penitenciária de Segurança Máxima. Daí porquê é melhor mesmo não assobiar, porque o assobio se tornou uma arma poderosa contra os bons costumes ...
“Tudo é permitido na sociedade contemporânea: passeada para liberação da maconha; casamento civil entre homossexuais; profanar igrejas e objetos sacros; ladrão condenado ficar e liberdade; chamar branco de branquelo; atentar contra o estado democrático de direito; recorrer ao STF para obrigar o povo a tomar vacina chinesa; menos assobiar. Pois assobiar é ato falho por espargir felicidade”.
Edson Vidal Pinto