Edson Vidal

A Competição

Tem modalidades esportivas que não tem muitos adeptos e nem atraem grandes públicos. Suas competições são realizadas em lugares muito restritos e longe dos olhos dos menos afortunados. O jogo de polo com cavalos de raça, o golfe apesar de seus prêmios milionários e as competições de arco e flecha que sobrevive por ser modalidade olímpica este o diminuto rol de puro esnobismo. Duvido que alguém tenha visto alguém arremessar flecha num alvo redondo, pintado de círculos vermelhos, pelo menos nos últimos cinquenta anos. Parece exagero, mas não é.

Na época áurea do petismo quando era “presidenta” a impagável Dilma Roussef era os bons tempos em que a Petrobras andava mal das pernas, a corrupção estava no auge, tudo era circo e até nos acampamentos do MST as partidas de truco eram apostadas em dólar americano. E os sindicatos arrecadavam fortunas de seus pobres associados que comiam carne moída e arrotavam Peru. Era PAC para cá e PAC para lá, o país saia da Copa do Mundo de Futebol e entrava nas Olimpíadas e desta para as Paraolimpíadas e o brasileiro não tinha nem tempo para pensar em mais nada. Mas teve um evento esportivo que pouca gente ficou sabendo e que só agora eu vou contar. O acontecido ficou intramuros e todos os que presenciaram juraram não contar para ninguém. 

Só que uma professora do Sindicato dos Professores do Paraná não aguentou e contou para uma prima e esta não se conteve e confidenciou o fato só para mim. Claro que vou agora contar também só para você leitor, ninguém mais. E por favor não espalhe para outras pessoas. Era aniversário do Luiz Ignácio e ele era o Governo só que não estava no governo a Presidenta tentara nomeá-lo chefe da Casa Civil, mas foi um tiro n’agua. Então o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC resolveu convidar sindicalistas de todo o Brasil para comemorar o nascimento do grande líder -, o Luiz Ignácio foi ao delírio. 

A festa teve nítida intenção de desagravo pelo fato de o Luiz Ignácio não ter sido nomeado para driblar a prisão. Vieram admiradores de todas as partes do mundo, desde o Obama, passando pelo Francisco e chegando no Osama. Rolou desde cedo cachaça, cerveja, picanha, linguiça e música do Gil, Caetano e Chico. Lá pelas tantas quando todos já estavam para lá de Bagdad chegou o Ministro da Educação o culto e probo Mercadante, que propôs realizar uma competição de Arco e Flecha diferente: que serviria para atestar a coragem dos presentes. Foi o que bastou para a multidão apontar e gritar:

- Luiz Ignácio! Luiz Ignácio!

Este sem saber ao certo porque estavam gritando o seu nome pois estava meio alcoolizado levantou o braço, foi até o microfone e respondeu:

- Obrigado! Obrigado!

O Mercadante pegou o Luiz Ignácio pelo braço e o conduziu no palco do salão onde eram organizadas greves, arruaças e quebra-quebras. Em seguida colocou uma maçã na cabeça do ex-presidente e chamou:

- Guilherme, pode entrar!

Entrou no recinto um sujeito com traje de tirolês, chapéu de bibico feito de fetro da cor verde, segurando um arco e uma flecha que ficou postado na entrada principal do salão, uns oitenta metros distantes do palco. O Luiz Ignacio olhou o sujeito e como não estava entendendo o que estava para acontecer, perguntou para o Mercadante:

- Companheiro, quem é o cara de arco e flecha?

- É o famoso e lendário Guilherme Tell ...

- E o que ele está pretendendo fazer ?

- Atirar a flecha e acertar a maçã que está em cima de sua cabeça.

- Putz, tá louco ... - e jogou a maçã no chão.

Os sindicalistas ficaram estupefatos pois não admitiam que o Luiz Ignácio fosse um covarde. Mas Luiz Ignácio logo percebeu que sua atitude não agradara ninguém foi então ao microfone e falou:

- Companheiros, joguei a maçã fora porque não sou marica; só vou servir de alvo com a maçã na minha cabeça quando esse tal de Guilherme Tell tapar os olhos com um lenço bem grosso e sem enxergar absolutamente nada, arremessar a flecha para acertar na maçã !! Se não for assim, não quero brincar ...

Todos os presentes olharam para o arqueiro esperando a resposta:

- Não, assim não poderei. Aceitar. Só tentei uma vez e acertei a maçã que estava em cima da cabeça do meu filho, porém não estava com os olhos vendados. Não posso arriscar e errar, lamento mais não posso ...

Daí houve uma vaia geral e o Mercadante retirou rapidamente o Tell do prédio do sindicato sob escolta policial. O Luiz Ignácio depois que falou saiu de fininho do palco e se escafedeu do lugar. Apenas ouvia ao longe os militantes gritando repetidamente o seu nome. E quando chegou em casa a d. Mariza Letícia perguntou:

- Luiz Ignácio, meu véio, não estava boa a festa? Você veio tão cedo!

- Pois é, nem te conto, mas o Mercadante me aprontou uma de matar ...

- ?

- Se não tenho raciocínio de mentiroso, estelionatário e velhaco nesta hora eu já estava no céu!!!

- Foi ruim, assim? Foi? - quis saber a mulher.

- Foi pior, muito pior de quando perdi metade do meu mindinho para me aposentar!...

- Então foi um horror !?!?!

- Só comparável com o maldito dia que ganhei de presente o sítio de Atibaia e o nosso duplex da praia !..

“Malandro tem perspicácia para sair de qualquer enrascada. É capaz de tudo para se desvencilhar de uma “fria”. Tem muito classe até para dizer e reafirmar : “que não sabe de nada!”

Edson Vidal Pinto

 

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