Crônica No. 2.500
Voltei para salvar o mundo! É pura verdade pois estive na última semana, e não contei para ninguém, participando de um simpósio para formação de médicos da atualidade na gloriosa Faculdade de Medicina de Pato Branco, quando aprendi o suficiente para dizimar com o Covid-19. Minha estada naquela aprazível cidade me deu nova motivação e serviu para dar um novo rumo na minha vida de aposentado. Só com duas horas diárias nos cinco dias úteis que participei do curso foi mais do que suficiente para adentrar no mundo mágico da ciência dos cromossomas, vírus, bactérias, protozoários, ácaros, fungos e piolhos.
Vi com os olhos que um dia a terra há de comer, slides fantásticos do trabalho feito em laboratórios que buscam “inventar” a vacina contra o vírus chinês, além do mais, testemunhei cientistas equipados com ferramentas adequadas aplicando “golpes” mortais contra o destruidor de vidas que está mudando o modo de viver dos seres humanos. Não sei por que o curso ministrado não teve a divulgação que mereceria tal a importância do tema no momento presente.
Atribuo quem sabe há falta de espaço para agregar tanta gente e a carência de hotéis na região do oeste do Paraná para hospedar muitos participantes. E não foi fácil assimilar todo o conhecimento científico ministrado no evento, tal a complexidade do tema para acabar com o Covid. Felizmente meu treino mental permitiu que eu assimilasse muito bem as lições, as palavras dos doutos e a difícil técnica inventada por um dos cientistas do laboratório da Pfizer.
E cheguei no aeroporto todo apetrechado com o material médico que comprei as duras penas para enfrentar cara a cara com o vírus. Fiz em paralelo um curso rápido de Mandarim caso o meu adversário queira me dirigir impropérios, para que eu possa revidá-los em pé de igualdade. Levar ofensa para casa: jamais! E levantei disposto a começar o dia entrando desde logo na batalha de vida e morte contra o malfadado vírus, antes prometi ao Hipócrates que colocaria meus conhecimentos gratuitamente a serviço da Humanidade e que combateria o bom combate com as armas da ciência, sem simulações e nem subterfúgios.
E devidamente dentro de meu traje de escafandrista (comprado no curso) hermeticamente fechado e respirando através de tubo ligado em um balão de oxigênio, com um martelo na mão direita (comprado no curso) e na outra uma lupa gigantesca (comprada no curso), estava pronto para lutar. Li no extraordinário informativo “Impacto” onde estava sendo realizada uma festa com quinhentas pessoas e fui direto para o local. Lá fazendo uso da lupa pude enxergar o vírus saindo no meio das baforadas ofegantes das bocas das pessoas e com o martelo em punho distribui golpes para todos os lados.
Vi milhares de vírus caindo mortalmente no chão. E assim percorri todo o salão dando marteladas por todos os lados. As pessoas no início estranharam a minha presença, mas depois se acostumaram com o meu traje e meu modo de dançar com o martelo fazendo zigue-zague na minha mão. No final da festa ninguém mais se importava com a minha presença. Mal eles sabiam que eu estava lutando heroicamente para salvar suas vidas. Cheguei exausto em casa e dormi sem tirar o escafandro. Viu como é fácil matar o vírus? É só dar uma martelada em cada vírus e pronto: fim da pandemia. De repente fui acordado com um puxão no meu escafandro por um pequeno burguês, com modos rudes e grosseiros. Mal abri os olhos escutei o governador de São Paulo gritar no meu ouvido:
- E agora bostinha, onde vou enfiar as milhões de vacinas que comprei da China ?!!!
“Moral da história: o apressado sempre come cru!”
Edson Vidal Pinto