Mensagem de Amor
Tem alguns episódios que acontecem na nossa vida que não tem muito nexo, pois são fatos aparentemente inocentes que ocasionam tragédia para muitos. Sei que é difícil explicar o que estou tentando escrever, mas como aconteceu comigo, acho que posso tentar esclarecer. Sempre fui apaixonado por minha mulher desde que a vi pela primeira vez, por isto então nunca escondi este sentimento (até hoje) que cultivo diariamente, com palavras e gestos de ternura.
Quando ingressei no Ministério Público eu tinha recém completado vinte e dois anos de idade e nós então éramos namorados, daí em razão da Carreira eu fui obrigado a residir no interior do Paraná, nas comarcas onde fora designado como Promotor de Justiça substituto e depois como Promotor de Justiça titular. É claro que na distância como não existia a facilidade de ter às mãos um telefone fixo, que na maioria das vezes levava horas para completar uma ligação com a Capital, eu habitualmente escrevia cartas e bilhetes que postava seguidamente no Correio das cidades por ende passava.
E foram inúmeras cartas escritas que minha mulher guardou como recordação dentro de uma caixa de papelão e que de vez enquanto ainda leio em ocasiões especiais. Tenho para mim que o amor é um sentimento que nunca morre. E de todas as cartas emblemáticas uma delas foi escrita no dia em que o homem pisou na lua pela primeira vez, quando registrei toda a emoção pelo acontecimento que inaugurou uma nova fase para humanidade.
Era hábito escrever também quando alguma coisa inusitada acontecia, tudo para eternizar os momentos entremeados pelos nossos sonhos. Mas nada se compara com o que aconteceu numa certa data, chuvosa, de nuvens carregadas, muito barro nas ruas e pouca gente caminhando ou veículos rodando. Era uma tarde em que apertou a saudades e me vi envolto em abandono.
Não pensei duas vezes, sai do fórum localizado no andar superior da Prefeitura Municipal, embaixo de um guarda-chuva emprestado pelo Tóta, apelido do então Oficial de Justiça, andei umas três quadras e cheguei no Correio. Só estava o funcionário do posto e mais ninguém.
- Boa tarde. Pois não? Em que posso ser útil? - Indagou o atendente.
- Boa tarde! Eu quero passar um telegrama. - Respondi.
O homem me deu um papel e pediu que eu escrevesse nele a mensagem que eu desejava. Sem titubear escrevi apenas: “Eu te amo!” Escrevi o nome da destinatária, paguei por cada letra escrita e retornei para o fórum. A paúra da tarde tinha se esvaído. Dias mais tarde viajei para Curitiba para ver minha noiva. Nem ela falou sobre o telegrama e nem eu lembrei de perguntar, porque eram tantas correspondências que eu enviava que tinha perdido a noção de perguntar.
Assim o telegrama em questão caiu no esquecimento. Depois de uns três anos que tínhamos casado minha sogra recebeu na sua casa um telegrama remetido pela Empresa dos Correios e Telégrafos endereçado para minha esposa. Nele estava escrito: “Eu te amo!” Em seguida tinha um pedido de desculpas da Empresa pelo atraso em enviar o telegrama porque este foi retido nos autos do funcionário do Posto do Correio de Carlópolis, por apropriação de dinheiro na modalidade de crime de peculato e demitido a bem do serviço público. Este “documento” também está guardado na caixa de papelão, no meio de minhas cartas de amor ...
“Uma história que não parece verdade. Mas na vida sempre tem episódios que acontecem de maneira inusitada. Cada um de nós com suas histórias, dramas e humor. Porque a vida é uma verdadeira Caixa de Pandora.”
Edson Vidal Pinto