Edson Vidal

A Impagável Carmen!

Claro que mulheres com o nome de Carmen são muitas pelo mundo todo, em todos os tempos e muitos corações. Eu mesmo tive uma tia com este nome que é nome de rua em Curitiba e nunca soube por qual motivo. Mas uma Carmen que mexeu com o imaginário dos homens era conhecida como Rita Hayworth, uma espetacular atriz de Hollywood que em 1.948 protagonizou juntamente com os atores Glen Ford e Victor Jory o filme “Os Amores de Carmen”. 

Uma história com enredo de traições e morte que começou quando um soldado (Ford) se apaixonou pela cigana Carmen (Rita) e não percebeu que a moça namorava vários homens inclusive um coronel ( Jory), seu superior hierárquico. Um dia o soldado encontrou a cigana nos braços do coronel e tomado de ciúme matou seu rival. Daí então o casal fugiu e   tudo caminhou para uma tragédia. Típico filme de época em que tudo era reprimido e sujeito às críticas comportamentais severas. Bons tempos de ótimos filmes e excelentes atores. Hoje no país uma só Carmen está sendo lembrada - a Carmen Lúcia - protagonista de cena bizarra apesar de ser apenas dona de casa, moradora na Cidade dos Deuses, que nunca seria lembrada como foi minha tia para ter nome de rua, se não tivesse se apaixonado pelo Gilmar. 

Este um chofer de caminhão, com modos toscos e palavreado de cais de porto, que nunca levou desaforo para casa quando está cercado de policiais federais. Sei um pouco de suas histórias porque fui vizinho do casal e agora não sei por que resolvi contar o protagonismo de um de seus inúmeros casos. Vale a pena ler porque parece um filme de chanchada da Atlântida. O título adequado seria “A compra do liquidificador “.  Há muito tempo Carmen Lúcia queria comprar um liquidificador para fazer seus bolos e surgiu a oportunidade quando leu uma propaganda das Casas Bahia ofertando o dito aparelho por precinho de banana. 

Leu e releu tanto o panfleto que até conseguiu decorar a marca Walita, tamanho, rotações por minuto e ficou convencida que jamais mudaria de opinião. E quando o Gilmar chegou depois de levar um frete de habeas corpus para vários clientes do peito, inclusive com passagem obrigatória por Portugal um lugarejo próximo de Faxinal -Pr., onde foi buscar “Escudos”. E quando estacionou o caminhão na frente da casa Carmen Lúcia implorou que queria comprar um liquidificador. 

Gilmar ficou brabo com o assédio de sua amada e colocou o seu beição de fora, disse mil palavrões, ameaçou dar uns cascudos na amada, mas acabou levando a mulher nas Casas Bahia. Entraram na loja e o beiço do Gilmar batia no chão.


- Pois não? - perguntou a vendedora.

- Tem liquidificador? - disse Carmen Lúcia.

- Sim senhora ...

Gilmar estava bufando de raiva por ter que gastar seus “Escudos” vindo de Portugal.

- Tem da marca Walita? - insinuou Carmen Lúcia com ar de vampira desnutrida.

- E está na oferta! - respondeu com alegria a atendente.

O Gilmar ouvia a conversa respirava fundo e coçava o beiço.

A vendedora trouxe o liquidificador Walita e a Carmen Lúcia quando viu chorou de alegria:

- A senhora está se sentindo bem?

- Otimamente bem, estou emocionado e feliz porque é o liquidificador que eu sempre desejei ...

No canto da loja o Gilmar estava pasmo de raiva porque nem foi consultado sobre o modelo e marca do liquidificador, mas preferiu remoer seu ódio.

- Então? Gostou? - quis saber a vendedora.

- Amei!!! - afirmou categoricamente Carmen Lúcia segurando o aparelho junto ao peito.

- Negócio fechado? Posso embrulhar? - indagou solicita a vendedora.

- Claro, claro ... - respondeu com convicção a vampiresca mulher.

A vendedora feliz da vida começou a empacotar a caixa com o liquidificador quando a compradora, também feliz, arrematou:

- Moça, não esqueça de colocar também na caixa o manual de funcionamento do meu liquidificador Arno ...

- Arno? - perguntou indignada a vendedora. - A senhora viu e gostou de um da marca Walita.

- Walita? Mas eu estava achando que era Arno? 

E começou o impasse. Foi quando Gilmar não aguentando mais engrossou seu timbre de voz, colocou o beiço quase no rosto da Carmen Lúcia e gritou:

- Pô, mulher! Você quer um liquidificador Walita ou Arno? Decida!!!

- Tá, tá. - respondeu meio gaguejando a compradora. - Moça: se eu tenho mesmo que decidir e isto é o que sei fazer na minha vida, pode empacotar um liquidificador da marca Eletrolux, tenho dito!

Esta é a Carmen Lúcia, uma mulher decidida, coerente e bem-amada. Só conheço ela que é assim tão decidida e mais ninguém. Duvido que você conheça outra Carmen Lúcia como a minha vizinha ...

“Como tem gente que estuda, batalha, aprende com a vida e se torna um exemplo para as futuras gerações. A minha vizinha é uma delas porque enfrenta qualquer parada e tem coerência absoluta na hora de decidir sobre a compra de qualquer eletrodoméstico.”

Edson Vidal Pinto

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