Edson Vidal

Vidas Cruzadas

Se alguém pensa que sair vitorioso em um Concurso Público de Ingresso para a Carreira de Juiz Substituto é fácil com certeza não sabe o que diz, pois além da concorrência o candidato é submetido há três etapas do certame que serve para aferir seus conhecimentos jurídicos: a) prova de múltipla escolha com cem (100) questões e cinco respostas sendo apenas uma correta. São classificados os candidatos que atingirem o número fixado no edital do Concurso, dentre aqueles que obtiverem as maiores notas; b) duas provas escritas que versam sobre temas discursivos de Direito e duas sentenças, uma cível e outra penal; c) prova oral com microfone, gravada, filmada e com a presença de público. 

Cada uma das fases é eliminatória se o candidato não obtiver a nota mínima (6,0) seis. Milhares concorrem e bem poucos são aprovados. E hoje em dia com o número exagerado e criminoso de Faculdades de Direito    aumenta todo o ano o número de concorrentes; e com a existência de cursinhos especializados exige apurado preparo e conhecimento dos candidatos inscritos.

Este modelo é aplicável de maneira uniforme em todos os concursos realizados no país para ingresso em qualquer das carreiras da Magistratura, sob rígida fiscalização do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Eu presidi um destes Concursos do Tribunal de Justiça do Paraná e participei de outras três Bancas Examinadoras e posso muito bem avaliar o peso da responsabilidade e dificuldade para os concorrentes. Pois bem, com certeza os drs. Sérgio Moro e Wilson Witzel há tempos atrás enfrentaram ditos certames para ingressar na honrosa Carreira de Juiz Federal. 

E jamais sonharam quando por opção desvestiram suas Togas para adentrar no mundo da política que pudessem no final alcançar estrondosas decepções. As vezes escrevo criticando o dr. Moro pelo equívoco que cometeu quando pediu exoneração da carreira, porém reconheço sua coragem com que exerceu a judicatura e inquestionável competência. Sob minha ótica errou quando renunciou a Toga para enfrentar a turbulência da política -, tendo faltado um conselheiro experiente que lhe dissesse do equívoco que poderia resultar ao aceitar o convite presidencial. 

Hoje com certeza seria ministro do STF. E mais: na presidência de processos tão importantes para o país descurou-de do indispensável cuidado e cautela de parmanecer longe da mídia e zelar por conversas que pudessem se valer a corja de seus inimigos gratuitos. Com certeza desapegou-se da vida pública com melancolia.

Nada que não possa dar a volta por cima. O mesmo aconteceu com o dr. Witzel  que deixou a Magistratura para ingressar na política partidária e na primeiro eleição foi aprovado nas urnas e eleito governador do Estado do Rio de Janeiro. 

E no exercício do cargo caiu em desgraça acusado de corrupção e sofreu o desonroso processo de Impeachment. Com certeza terá um futuro incerto. Eis aí dois exemplos de pessoas capazes porém com experiências de altos e baixos, pois vivenciaram o Poder e voltaram ao ponto de partida. O dr. Moro com certeza amadureceu o suficiente para levar muito bem sua vida; mas o dr. Witzel terá de enfrentar mares revoltos por conta do pejo da corrupção que marcou seu governo. Duas cabeças, duas decisões iguais e que terão pela frente dois caminhos distintos ... 


“Tem decisões de caráter pessoal que o indivíduo além de maturar deve ouvir um bom e vivido conselheiro. E mesmo assim o pior pode acontecer. Afinal o amanhã só há Deus pertence e cada um planta na vida sem a certeza se poderá colher bons frutos.”

Edson Vidal Pinto

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