Edson Vidal

Adeus Coração Curitibano

Meu querido amigo Jaime Lerner nos deixou na manhã de ontem porque Deus quis que fosse ao encontro de sua mulher amada; e nos legou uma Curitiba conhecida no mundo graças a sua genialidade de urbanista e construtor de cidades. Tive a honra de ser seu Secretário de Estado da Justiça no período de seu primeiro governo e testemunhei suas preocupações com o desenvolvimento do Paraná e seu sofrimento quando o dinheiro arrecadado pelo erário não lhe permitia aquinhoar os funcionários públicos com reposições e aumentos de seus salários. 

Foi muito mais Prefeito (três vezes) do que governador (duas vezes) porque no municipalismo não teve de enfrentar políticos governantes que tudo faziam para permanecer no Poder há qualquer custo. Para saber quem foi o Jaime é preciso conhecer primeiro o homem. Imagine uma cena dentro de um hospital dos EEUU onde sua querida Fany lutava bravamente contra uma doença grave e era dia de aniversário de casamento do casal, ela debilitada fisicamente e de repente surge no corredor o Jaime com um violinista tocando uma suave melodia, ele entra no quarto pega a esposa pelos braços e ambos ensaiam alguns passos de dança até a música terminar. Tudo sob aplausos de médicos, enfermeiras e pacientes. 

Este o homem marido, pai e amigo. Como governador ao assumir pegou um estado do Paraná quebrado, o Banestado quase sem lastro financeiro captava recursos sob orientação do Banco Central e a agricultura era a base de toda a economia. Ao invés de denunciar a situação caótica do estado optou, para não perder o crédito, em buscar recursos no exterior valendo-se de seu prestígio pessoal, mas não suficiente para impedir a liquidação do banco estadual. 

Determinação está vindo de Brasília. Na sua prancheta idealizou o anel de integração interligando os quatro cantos do Paraná através de rodovias pedagiadas. O pedágio. Foi no Paraná que foi iniciado o pedágio cobrado no Brasil e como foi um protótipo serviu para os demais estados estabelecerem para suas rodovias valores mais adequados.  Mas no Paraná a adequação juridicamente não foi possível em razão das cláusulas estabelecidas contratualmente que serviram de chamariz para os empresários assumirem o ônus do pedágio. 

Situação que poderá ser ajustada somente agora quando o avençado chega no seu final. De outro viés não se pode tirar o mérito de que seu governo foi o marco da industrialização do Paraná quando conseguiu trazer a montadora francesa Renault e todas as dezenas de empresas de fabricantes de acessórios usados na construção de veículos automotores. Juntos criamos a primeira Penitenciária Industrial do Brasil, no município de Guarapuava, que não foi levado a diante por falta de vontade política dos governos subsequentes. 

Quando deixou o governo e voltou para o urbanismo, como profissional amargou processos levianos e sempre orquestrados por seu inimigo político que nunca se conformou com o seu sucesso na vida. E quem o destrata com certeza nunca o conheceu pessoalmente e muito menos teve a decência de saber do seu caráter, educação e retidão moral. E agora Curitiba perdeu um de seus filhos mais ilustres conhecido e admirado como urbanista em todo o mundo.
 Ele com certeza fez muita sombra para muitos que invejam suas vitórias, mas que não deixam de admirar e usufruir de Curitiba, uma cidade em que o Jaime projetou como a de melhor qualidade para se viver ...

“Jaime Lerner como urbanista foi um técnico além do seu tempo -, como Prefeito um benfeitor da cidade de Curitiba; e como Governador o idealizador da industrialização do estado. Através de sua prancheta tornou-se cidadão do mundo e construtor de cidades. E como homem um amigo que jamais será esquecido!”

Edson Vidal Pinto

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