Uma Homenagem Que Deu Zebra
Como é dia de descanso e de jogar conversa fora vou narrar um episódio que aconteceu com meu amigo e compadre Saulo Ramon Ferreira, conceituado Procurador de Justiça do MP do Paraná que ao ingressar na carreira foi nomeado Promotor Substituto da Comarca de Umuarama, cidade localizada no noroeste do estado e que fica há seiscentos quilômetros da Capital. Ele ainda jovem, noivo, recém saído da Faculdade de Direito da UFPR e aprovado com méritos no concurso público do MP chegou ressabiado no fórum como todos nós que um dia iniciamos nossa jornada profissional e quando se apresentou como o novo Promotor Substituto foi bem acolhido pela família forense.
Na época o diretor do fórum era o Juiz Joel Pugsley , além dele trabalhavam os Juízes Aroldo Glomb, Jose Carlos Lins Santos, Leonardo Pacheco Lustoza e Milton Etzel; e os Promotores Benito Italo Pierri ( o decano), eu, Antonio Benedetti Maggio e ausentes Félix Fisher (comissionado no gabinete do Procurador-geral) e Joubert Gonzaga Vieira porque exercia o cargo de Prefeito do município de Antonina, no litoral. E o Saulo que era oriundo da cidade de Foz do Iguaçu onde morava seus pais e a noiva acostumado com os hábitos do interior também não teve problema algum de se adaptar na nova cidade. Aliás o nome “Umuarama” é de origem tupi-guarani e quer dizer: “onde os amigos se encontram!”
E é a mais cristalina verdade porque quem morou na cidade não esquece dela e dos amigos que por lá angariou. Meses depois o “nosso” substituto casou em Foz do Iguaçu e toda a família forense de Umuarama este presente nas bodas. Tempos depois por circunstâncias da Carreira o dr. Saulo foi promovido para a comarca de Santa Izabel do Ivaí, uma cidadezinha pequena e quase “fora” do limite territorial do Paraná. E lá ele estabeleceu residência com a esposa Nara e continuou tocando a vida. Daí uma situação inusitada.
Uma jovem, grávida, esposa de um dos Oficiais de Justiça disse para quem quisesse ouvir na cidade que daria o nome do Promotor para seu primogênito, pois queria prestar-lhe uma homenagem. Circunstância estranha para uma cidade pequena porém o marido como principal interessado não se opôs. Claro que meu compadre ficou constrangido e por ser recém-casado não queria que sua mulher colocasse minhoca na cabeça. Mas ela achou natural o episódio e nunca pensou nada que pudesse comprometer seu esposo.
Mas como era uma homenagem e nada mais do que uma homenagem o homenageado o acabou assimilando a ideia. E assim nasceu um “Saulo” em Santa Isabel do Ivaí. A bem da verdade o prenome Saulo não é muito comum porém o meu amigo levava o mesmo prenome de seu pai Saulo, ilustre Promotor de Justiça de saudosa memória, mas como também levava no nome o apelido de família da mãe (Ramon) não adquiriu o acréscimo de “filho” ou “Júnior”. Só tempos depois nasceu seu filho batizado de Saulo Ferreira Neto, nome do avô paterno e meu afilhado de batismo. E como a marcha do tempo é inevitável o meu compadre logo saiu de Santa Isabel do Ivaí para trabalhar em outras comarcas até chegar em Curitiba e para coroar sua trajetória ministerial foi alçado ao último degrau da Carreira no cargo de Procurador de Justiça. Certa tarde, no seu gabinete de trabalho recebeu por distribuição para dar parecer em um Habeas Corpus oriundo da Comarca de Santa Isabel do Ivai em favor do paciente Saulo, preso em flagrante delito.
Logo veio na lembrança que era a sua “homenagem” que estava preso e clamando por liberdade. Não contou para ninguém e emitiu seu pronunciamento contrário há pretensão do advogado impetrante da Ordem. Quando chegou em casa contou o sucedido para sua mulher -, mas esta não fez comentário. Contudo meu compadre até hoje não “perdoa” o seu xará por ter denegrido o seu nome, de seu pai e de filho...
“Viver profissionalmente nas pequenas, médias e grandes cidades do interior do estado é ter o privilégio de vivenciar ou ter vivenciado episódios pitorescos que acontecem no dia dia. Narro uma homenagem prestada há um Promotor de Justiça que teve um final inusitado.”
Edson Vidal Pinto