Apologia
A Imprensa fala tanto no psicopata Lázaro Barbosa dando ênfase a perseguição que dura longas semanas que dá a impressão que o matador é um habilidoso mateiro que engana a polícia como se esta fosse constituída de amadores destreinados. Os jornalistas procuram descrever ações do criminoso usando de imaginação fértil para induzir os telespectadores de que se trata do enredo de uma novela interiorana, como se de repente aparecesse no meio do mato o Jerónimo (“O Herói do Sertão”), sua namorada Aninha e mais seu inseparável amigo Saci para juntos finalmente prenderem o astuto fugitivo.
As peripécias de Lázaro são narradas como os repentistas contam as histórias nas suas revistinhas de cordéis, dando a impressão que o “homem” tem o diabo no corpo e consegue vagar como alma penada. Nada disso. O sujeito até pode conhecer a região mas não é invisível e nem esperto -, quem leu sobre as andanças do bando de Lampião para fugir da polícia sabe muito bem que a zona rural extensa torna qualquer caçada difícil, todo buraco é um esconderijo e não faltam pessoas para dar abrigo.
O “seu” Virgulino foi rastreado e perseguido por vinte e um anos e o embate final com a “volante”, em Poço Redondo - Sergipe, se deu quando um informante deu a localização correta do acampamento do bando. E pela lógica o final de Lázaro acontecerá quando alguém se dispuser a contar do seu paradeiro ou o mesmo, cansado da perseguição, se entregar. E se a polícia achar será por mero acaso. Ninguém tem bola de cristal para saber quando e como ocorrerá este desfecho.
Mas Imprensa floreia de tal maneira a fuga do pistoleiro que está dando nítida impressão que está nascendo (depois do Luiz Ignácio) um novo herói brasileiro. É a figura do matador profissional que está sendo exaltada e não o trabalho incansável da Polícia. Nas entrelinhas está a chamada apologia do crime. De outro viés o Ministério Público Federal pretende apurar na mídia eletrônica os autores de notas e comentários que estão fazendo apologia do crime usando para isto das ações furtivas de Lázaro. Uma piada de mau gosto.
Tomara que o episódio em comento termine o mais rápido possível porque não dá mais para aguentar, em período de isolamento social, o chato do Datena e seus colegas falar tanto em Covid, CPI, vacinas e no Lázaro. Este sem nenhuma dúvida um pobre desconhecido que foi ressuscitado para o mundo através da Imprensa obtusa…
“Faz apologia do crime quem alardeia na coletividade o temor por prováveis ações delituosas de delinquente que é enaltecido por ser um estrategista em fuga. Um assassino duro de combater. Insinuação de que o crime compensa.”
Edson Vidal Pinto